Voto sem idade
Esta Folha é contrária ao voto obrigatório, o que não significa que considere desimportante uma ampla participação —voluntária— do eleitorado nos pleitos. Um interesse disseminado pela política, que não deve se limitar ao comparecimento às urnas, contribui para a vitalidade da democracia.
Nesse sentido, parecem positivos os dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a respeito do alistamento recente de jovens aptos a votar. Segundo a corte, 2 milhões de brasileiros de 16 a 18 anos de idade, cerca de 20% da população nessa faixa etária, obtiveram o título de eleitor entre janeiro e abril deste ano.
Trata-se de número superior aos verificados em 2014 (1,3 milhão) e 2018 (1,4 milhão), mas não é o bastante para concluir que esse estrato terá maior peso na disputa deste ano. Falta conhecer a composição total do eleitorado e o impacto da pandemia na emissão de títulos.
Houve mobilização nas redes sociais para estimular jovens a buscarem o título de eleitor, particularmente entre setores com preferências à esquerda. De acordo com pesquisa Datafolha de abril, 65% dos entrevistados de 16 a 24 anos consideram o governo Jair Bolsonaro (PL) ruim ou péssimo, ante 48% no conjunto da população.
Como se sabe, no Brasil o voto é facultativo para os menores de idade, assim como para os analfabetos e os idosos acima de 70 anos. A mesma norma deveria valer para toda a população. Não é a obrigatoriedade, afinal, que vai levar cidadãos a darem maior importância aos candidatos e aos mandatários.
Na prática, aliás, o eleitorado vai percebendo que é possível não comparecer às urnas —por falta de informação ou de interesse na disputa— sem arcar com maiores sanções, como mostra o aumento dos índices de abstenção.
Quanto a um desprestígio da política e, por vezes, da própria democracia, estudos e discussões sobre o fenômeno não são recentes, muito menos se limitam ao Brasil.
As hipóteses para explicá-lo vão de desigualdades sociais crescentes a um descompasso entre aspirações crescentes da sociedade e resultados dos governos; as consequências, mais aparentes, incluem a ascensão de lideranças populistas, quando não autoritárias.
Fato é que a atratividade da política depende necessariamente das palavras e das atitudes de políticos e seus partidos. Eles não terão sucesso em delegar a terceiros a tarefa de atrair o eleitor à urna.