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O novo Alckmin, o velho Lula

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

09 de abril de 2022 | 03h00

Anunciada pela sua nova legenda, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), a indicação de Geraldo Alckmin para ser vice na chapa presidencial do petista Lula da Silva oficializa um equívoco singular, que vem causando, desde suas primeiras movimentações, imensa perplexidade entre o eleitorado do ex-governador paulista. Com o ato, Alckmin renega toda a sua biografia política para participar do engodo petista de que a volta de Lula ao poder seria nada menos que a salvação da democracia.

Na vida política, é normal que haja mudanças. Mas não é nada normal que um político abandone, de forma tão espetacular, seu eleitorado construído ao longo de décadas. Por mais explicações que agora queiram dar, o fato é que Alckmin sempre se colocou em campo político-ideológico diametralmente oposto ao do PT. E verdade seja dita: atuando dessa forma, conquistou e manteve a confiança do eleitor paulista. Prova disso é sua longa permanência no Palácio dos Bandeirantes, sempre pelo PSDB.

Sendo tão contraditório com sua trajetória política, o passo que Geraldo Alckmin agora dá contribui para a desconfiança da população na política. As dúvidas brotam abundantes. Então era esse o candidato a presidente que, em 2006, prometia governar de forma diferente do PT, sem corromper o Congresso com o mensalão, revelado no ano anterior? Então era esse o candidato que, em 2018, se colocava como representante do centro democrático, distante tanto do lulopetismo quanto do bolsonarismo? A política, a genuína política, requer um pouco mais de constância nos princípios.

Para piorar, as novas vestes políticas de Alckmin reforçam o embuste contra a democracia que o PT pretende impor ao eleitor brasileiro. Depois dos anos de desgoverno e negacionismo de Jair Bolsonaro, é preciso reconduzir o governo aos trilhos da responsabilidade e do interesse público, mas Lula obviamente não é a solução e, menos ainda, a única solução, como os petistas querem fazer acreditar.

Lula da Silva e Jair Bolsonaro são parte do problema, como tão bem mostram suas propostas de intervencionismo na economia, de irresponsabilidade fiscal, de demagogia nos preços administrados e de enfraquecimento da autonomia das agências reguladoras. Os dois propõem o atraso e querem que o eleitor acredite que não há alternativa a eles. 

Se a preocupação de Alckmin é com a democracia no País e com os rumos tomados pelo governo Bolsonaro, não é se juntando a Lula da Silva que vai realizar seus propósitos. De novo, a política, a genuína política, é mais do que simplesmente aderir a quem aparece na frente nas pesquisas. Sucumbir ao canto do populismo é reproduzir precisamente o percurso que tanto mal tem feito ao País – e do qual, até há pouco, se pensava que Alckmin fosse um combativo opositor.

De forma muito concreta, o caminho da democracia passa pela união de forças em torno de uma candidatura de centro, responsável e comprometida com o interesse público. Certamente, não é se aliando ao partido que produziu os maiores escândalos de corrupção da história nacional e uma profunda crise econômica resultante de irresponsabilidade fiscal que Alckmin contribuirá com a reconstrução do País.

“O que estará em questão nas eleições de 2022 é o confronto decisivo entre democracia e autoritarismo”, disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira, ao oficializar a disposição do partido de unir-se à chapa petista. É realmente esquisito como alguns partidos se submetem à pretensão de hegemonia petista, reforçando um discurso que nada tem de democrático. A democracia é plural. 

O PT finge que não sabe, mas quem é democrático respeita as leis do País, não trata quem pensa diferente como inimigo, não chama de “golpe” decisões constitucionais do Congresso e do Judiciário, não faz aparelhamento político-ideológico do Estado, não destrói as estatais. Tudo isso já era conhecido. A novidade é contar agora com o aplauso de Alckmin, que pautou sua bem-sucedida vida como governante em São Paulo sendo a antítese perfeita do petismo.

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