Bolsonaro trava crescimento da terceira via na disputa eleitoral
Bruno Boghossian /Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA). / FOLHA DE SP
Uma característica marcante do eleitorado de Jair Bolsonaro dá pistas dos rumos que a corrida presidencial pode tomar nos próximos meses. Há quase dois anos, o presidente segura um núcleo maciço de apoiadores, que citam seu nome de forma espontânea, antes mesmo de conhecer a lista de possíveis candidatos.
A última pesquisa divulgada pelo Ipespe repete um padrão registrado desde 2020. Logo no início da entrevista, 23% dos eleitores citam Bolsonaro como nome preferido para o primeiro turno. Depois, ao saber quem são os pré-candidatos, 24% declaram voto no presidente.
Esse cenário indica uma vantagem e uma desvantagem para Bolsonaro. O primeiro número mostra que o presidente conseguiu cristalizar um eleitorado na casa dos 20% –o que lhe garante boas chances de chegar ao segundo turno. O dado seguinte, no entanto, sugere que ele empolga pouca gente além desse eixo fiel.
A solidez do bolsonarismo é um obstáculo para a terceira via. No quadro atual, esses candidatos precisam superar a marca dos vinte e poucos por cento para ir ao segundo turno. Até aqui, nenhum deles alcançou dois dígitos. Outro caminho seria tirar votos do presidente, mas seus eleitores ainda não mostram vontade de ir a lugar nenhum.
Na prática, Bolsonaro trava o crescimento desses candidatos. O presidente tem um piso firme de votos, apesar de enfrentar o pior momento na avaliação de seu mandato. Mesmo que não ameace a liderança de Lula nas pesquisas, ele ainda pode se beneficiar das ações do governo e do tímido refluxo da inflação para ganhar alguns pontos e se distanciar ainda mais do segundo pelotão.
O único movimento que poderia catapultar para o segundo turno uma candidatura alternativa seria uma desilusão coletiva no bolsonarismo. Se milhões de eleitores enxergarem uma derrota certa de Bolsonaro para Lula no segundo turno, eles podem recorrer ao voto útil no primeiro turno. Até aqui, porém, nenhum outro nome mostrou força suficiente para bater o petista.