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O Novo não quer um centavo dos R$ 2 bi que Bolsonaro dará aos partidos

Ele é uma espécie de mecenas da política. Milionário – declarou à Receita na campanha presidencial de 2018 possuir bens no valor de R$ 425 milhões – , João Amoêdo usou parte de sua fortuna (R$ 4,5 milhões) para fundar o Novo em 2011. E, mais que isso, envolveu seus amigos banqueiros no projeto de criação do partido, com a ideia de unir gente nova, executivos de empresas e do mercado financeiro, que estavam à margem do processo político, mas que desejavam construir um Brasil liberal na economia e conservador nos costumes.

O propósito de Amoêdo é fazer política de um modo diferente: não usar dinheiro público para manter o partido ou disputar eleições. Por isso, o Novo se recusa a receber um único centavo dos R$ 2 bilhões destinados pelo presidente Bolsonaro aos partidos para gastos com a campanha eleitoral de 2020. Amoêdo diz que a legenda prova, assim, que esse modelo é viável. “Sem dinheiro público, em 2018 eu fiquei em quinto lugar na eleição para presidente, à frente de Marina Silva e Henrique Meirelles, ao mesmo tempo em que elegemos oito deputados federais e o governador de Minas Gerais”.

O que o senhor achou do presidente Jair Bolsonaro ter sancionado a lei que aloca R$ 2 bilhões ao fundo eleitoral para as campanhas municipais de 2020?
Muito ruim, por dois motivos. Primeiro, porque nas eleições municipais de 2016 não houve financiamento de empresas e nem dinheiro público. As eleições transcorreram normalmente, com campanhas mais baratas. Ficou demonstrado que não havia necessidade de dinheiro público para o pleito. Esse dinheiro liberado agora deveria estar sendo destinado para as áreas sociais. Porque, no fundo, ele é retirado do bolso do cidadão em forma de impostos. Tais recursos poderiam estar sendo usados pelas pessoas para comprarem comida e remédios. Mas o que ficou muito ruim foi o fato de o presidente liberar os R$ 2 bilhões sob a alegação de que se não o fizesse poderia sofrer impeachment. Isso não é verdade. Os advogados que nos assessoram disseram que não havia esse risco para o presidente.

O presidente sempre disse que era contra o uso de recursos públicos em campanhas eleitorais. Por que ele mudou de ideia?
É difícil saber o que lhe foi exigido em troca, mas não é bom quando os governantes vão deixando de lado princípios e valores para tomar uma decisão em função de objetivos de curto prazo, o que tem sido uma tradição na nossa política. É por essa razão, inclusive, que o Brasil não consegue crescer e ter segurança jurídica. E, pior, o presidente está criando um partido, o Aliança, que não veta a utilização de dinheiro público para uso eleitoral em seu estatuto. O Novo, por sua vez, veta o uso de dinheiro público para campanhas. Só aceitamos nos casos em que a legislação eleitoral exige, como no caso dos 5% para candidaturas femininas, pois se não usarmos aí poderemos ter as contas rejeitadas.

Sem dinheiro público, como o Novo pretende fazer suas campanhas eleitorais esse ano?
Como fizemos nas eleições de 2016 e 2018. Ou seja, usando apenas os recursos doados por nossos filiados. Vamos fazer campanhas baratas e usando muito as mídias sociais, com bons candidatos, novas práticas e posturas, mas principalmente que representem de fato a renovação de lideranças.

O senhor acredita que o uso de dinheiro público em campanhas eleitorais pode repetir a corrupção ocorrida no passado com os recursos de empreiteiras?
Acabei de ler uma reportagem mostrando que o ex-presidente de um desses partidos usou o dinheiro público dos fundos partidários para viajar pelo mundo. No caso do Novo, temos mais de R$ 30 milhões do fundo partidário na conta corrente do partido, mas nós não vamos usar. Queríamos depositar esse dinheiro no Fundeb, o fundo para o desenvolvimento da educação básica, mas a legislação não permite. Estamos fazendo uma consulta ao TSE nesse sentido, mas é um absurdo, pois a legislação nos obriga a gastar esse dinheiro com o partido e nós decidimos não usar.

Não é possível simplesmente rejeitar o recebimento do dinheiro?
São duas coisas distintas. O fundo eleitoral pode ser rejeitado, como estamos fazendo agora. Ele fica no Tesouro. Mas com o fundo partidário é diferente. Se não aceitarmos receber, o dinheiro é distribuído entre os demais partidos. Então, o que estamos fazendo com o fundo partidário: recebemos os recursos e aplicamos os valores no banco. Paralelamente, negociamos devolvê-los a algum programa do governo, especialmente ao fundo para a educação.

Durante a fundação do Novo, o senhor doou R$ 4,5 milhões para contribuir com a estruturação da sigla. O senhor continua colocando dinheiro pessoal para tocar a máquina partidária?
No início do projeto eu coloquei um dinheiro mais expressivo no Novo porque era mais difícil se obter doações, tínhamos poucos filiados, e eu me comprometera em colocar o partido de pé. Mas depois que o partido foi registrado, com outros fundadores e mais filiados, eu colaboro regularmente como a maioria dos filiados, sem nenhum grande aporte adicional.

O senhor investiu recursos pessoais também na campanha para presidente em 2018, certo?
Eu gastei um pouco mais de R$ 4 milhões, mas foi o custo por voto mais barato, depois das campanhas do Bolsonaro e do cabo Daciollo. Coloquei R$ 100 mil de recursos próprios. Mesmo gastando pouco, fiquei em quinto lugar, à frente da Marina Silva e até do ex-ministro Henrique Meirelles.

Mas o senhor tem amigos banqueiros, como o Pedro Moreira Salles, dono do Itaú/Unibanco, que colaboraram com o partido. Esses banqueiros continuam doando dinheiro para o Novo?
Eles contribuíram na época da fundação e alguma coisa na minha campanha para presidente, mas nos últimos 12 meses não houve nenhuma contribuição relevante deles. Hoje, 90% da nossa arrecadação vem dos filiados. Provamos que dá para fazer política sem dinheiro público e das empreiteiras. Em 2018, elegemos oito deputados federais sem dinheiro algum desses entes, batemos com folga a cláusula de barreira, fui o quinto colocado sem participar dos debates e ainda elegemos o governador de Minas Gerais, o terceiro estado mais importante.

O Novo chegou a apoiar o presidente Bolsonaro no início do governo, mas logo depois abandonou a base. Qual é a sua avaliação do governo nesse primeiro ano?
Nosso apoio nunca foi especificamente ao governo, mas às pautas que entendemos importantes para o País. Num primeiro momento, o Novo foi um grande apoiador da Reforma da Previdência. Acho que nosso partido foi o que votou da forma mais coesa pela reforma. Apoiamos também outras medidas de maior liberdade econômica para permitir a geração de mais empregos e sempre contra privilégios e benefícios.

 

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