Com aval de Maia e Ciro, DEM e PDT firmam alianças e miram hegemonia do PT no Nordeste
Conhecidos por estarem em lados opostos do espectro ideológico, PDT e DEM selaram alianças para as eleições municipais em pelo menos três capitais no Nordeste, região que é o principal reduto eleitoral do PT no país.
A articulação é comandada pelos diretórios nacionais dos partidos e possui o aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), presidenciável derrotado na eleição de 2018.
A estratégia de apoio mútuo tem como objetivo forçar um redesenho da divisão de forças políticas da região a partir das capitais e grandes cidades. As parcerias não ficarão restritas ao Nordeste, mas é onde houve mais avanços até o momento.
“É uma parceria que pode dar frutos. A eleição municipal será uma boa preliminar para sabermos qual será o ambiente para 2022”, afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Ele confirma a estratégia de ganhar terreno na região onde o PT comanda os governos da Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte: “Estamos cutucando a onça [o PT]”.
Já formam firmadas alianças entre PDT e DEM em Fortaleza, Salvador e São Luís. Há a expectativa de que as parcerias possam se estender para outras capitais da região como João Pessoa, Aracaju e Natal.
Nestas três últimas, o PDT iniciou uma ofensiva para atrair para seus quadros dois prefeitos que vão disputar a reeleição e um governador.
O acordo mais próximo de ser concretizado é em Aracaju, onde o prefeito Evaldo Nogueira deixou o
PC do B após 39 anos e já está apalavrado com o PDT para disputar a reeleição.
A mudança deve alterar o cenário eleitoral da capital sergipana de forma profunda. O PT, que apoiava Nogueira, rompeu com o prefeito e lançou a pré-candidatura do ex-deputado federal Márcio Macêdo.
Ao mesmo tempo, Nogueira se aproximou de partidos como PSC e DEM —neste último, foi buscar o vereador que nomeou como líder do governo na Câmara Municipal ainda no ano passado.
A segunda cartada dos pedetistas será atrair para seus quadros o governador da Paraíba João Azevêdo, que rompeu com o seu padrinho político, o ex-governador Ricardo Coutinho, e pediu desfiliação do PSB em dezembro.
O DEM, que fez parte da chapa que ajudou a eleger Azevêdo, reiterou o seu apoio ao governador e afastou-se do grupo de Coutinho. Este último vive um período turbulento após ter sido preso e denunciado por suspeitas de corrupção no âmbito da operação Calvário, da Polícia Federal.
Com a filiação de Azevêdo, a tendência é que PDT e DEM estejam no mesmo palanque na disputa pela Prefeitura de João Pessoa, criando uma terceira via entre o PSB de Coutinho e o PV do atual prefeito Luciano Cartaxo.
O PDT ainda mira a filiação do prefeito de Natal, Álvaro Dias (MDB), que disputará a reeleição com o apoio do DEM. Ele assumiu o município em 2018 após a renúncia do então prefeito Carlos Eduardo (PDT), que deixou o cargo para concorrer ao governo do Rio Grande do Norte, mas foi derrotado.
Em Salvador, Fortaleza e São Luís, o cenário das alianças já é mais claro. Na capital cearense, o DEM já ocupa a vice do prefeito Roberto Cláudio (PDT), que encerra seu segundo mandato, e vai reeditar a dobradinha com os pedetistas com as bênçãos de Ciro Gomes.
São pré-candidatos pelo PDT o secretário municipal Samuel Dias, o deputado estadual José Sarto e a vice-governadora Izolda Cela.
Na capital baiana, o prefeito ACM Neto já lançou a pré-candidatura do vice-prefeito Bruno Reis (DEM) para sua sucessão com o apoio de 12 partidos.
O PDT vai lançar o secretário municipal da Saúde, Leonardo Prates, que é próximo a ACM Neto e acaba de se desfiliar do DEM. As conversas caminham para que ele seja o candidato a vice-prefeito na chapa de Reis.
Em São Luís, o prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT) também tentará fazer o seu sucessor. O candidato ainda não foi definido, mas já é certo que o partido sairá em aliança com o DEM. A ideia é criar uma candidatura única mais ao centro, que enfrentaria o provável candidato do PC do B do governador Flávio Dino e o candidato da oposição.
Em Maceió e Teresina, o cenário ainda é nebuloso, mas a conjuntura pode levar os dois partidos ao mesmo palanque. Nos dois casos, as legendas são aliadas dos prefeitos do PSDB que estão no fim do segundo mandato, mas não têm um sucessor considerado natural.
Das nove capitais nordestinas, Recife é única em que entre PDT e DEM não têm nenhuma chance de estar no mesmo palanque.
Os pedetistas lançaram a pré-candidatura do deputado Túlio Gadêlha, que negocia uma aliança com o PSOL e a Rede. Já o DEM defende a candidatura do ex-ministro Mendonça Filho, que já disputou o cargo em 2008, mas foi derrotado.