Pagador de propina depositou US$ 1,5 milhão na conta de Santana durante campanha eleitoral de Dilma
O marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, chegaram nesta terça ao Brasil. Ela se mostrava confiante, deixando escapar, quem sabe, um esgar de ironia. Ele parecia tranquilo, ar sorridente, como quem estivesse prestes a desfazer um mero mal-entendido. E, no entanto, parece que as coisas não vão mesmo se dar desta maneira.
Tudo indica que Santana vai dizer que o dinheiro que recebeu numa conta offshore decorre de trabalhos que fez no exterior (ver post anterior). Já evidenciei que a versão não faz sentido. Reportagem publicada pelo Estadão, de resto, traz uma coincidência que ameaça levar para o centro do furacão as contas de campanha de Dilma Rousseff.
Três dos nove depósitos feitos na conta de Santana pelo lobista e pagador de propina Zwi Skornicki aconteceram quando o marqueteiro estava no Brasil, dedicado de corpo e alma à campanha de Dilma Rousseff. Totalizam US$ 1,5 milhão. Foram efetuados nos dias 10 de julho, 6 de setembro e 4 de novembro de 2014. A atividade conhecida de Skornicki era fazer negócios que envolviam a Petrobras, apelando ao argumento muito conhecido da propina.
Ao todo, foram nove depósitos de US$ 500 mil. O primeiro foi efetuado pela Deep Sea Oil — conta de Skornick — na Shellbill, a conta de Santana, no dia 25 de setembro de 2013. Dois outros se deram em novembro e dezembro daquele ano. Em 2014, os primeiros depósitos ocorreram em fevereiro, março e abril. Convenham: àquela altura, só a campanha oficial não havia começado. A real já comia solta. E Santana já estava cuidando da imagem da candidata à reeleição: Dilma Rousseff.
É evidente que a investigação se aproxima perigosamente do Palácio do Planalto. Por que um lobista, conhecido por fazer da propina um método de trabalho, depositaria US$ 4,5 milhões na conta de Santana no prazo de um ano, em robustas parcelas de US$ 500 mil? Para remunerar exatamente qual trabalho?
A Lava Jato, diga-se de novo, não está investigando campanhas eleitorais ou a prestação de contas do partido. O que ela investiga são eventuais crimes, como lavagem de dinheiro, por exemplo. É evidente que esses dados, no entanto, têm de ser enviados ao Tribunal Superior Eleitoral, onde há quatro ações movidas pelo PSDB que podem resultar na cassação da chapa que elegeu Dilma.
Não será fácil a presidente encerrar este mandato. E que não encerre! Para o bem do Brasil. REINALDO AZEVEDO