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Bolsonaro avança sobre antigos redutos do PT, decisivos para vitória de Dilma em 2014

RIO — O candidato à Presidência Jair Bolsonaro ( PSL ) avançou sobre tradicionais redutos petistas no primeiro turno das eleições 2018. Bolsonaro não só consolidou sua posição no Sul, Sudeste e Centro-Oeste — onde Aécio Neves ( PSDB ) também registrou seus melhores resultados há quatro anos — como foi o mais votado no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi vencedora nos três estados. O PT, por outro lado, manteve a liderança em quase todo o Nordeste com Fernando Haddad . O bastião petista na região garantiu o segundo turno. O partido só não ganhou no Ceará, reduto eleitoral de Ciro Gomes (PDT).

No primeiro turno, Bolsonaro venceu em 17 estados. Na eleição passada, Aécio Neves ficou na liderança em apenas dez. Já Fernando Haddad, do PT, ficou em primeiro lugar na votação para presidente em nove estados, enquanto Dilma liderou em 15, em 2014.

O estado do Rio de Janeiro foi o maior símbolo do avanço de Bolsonaro sobre antigos redutos petistas. O candidato do PSL alcançou 59,8% dos votos no estado, contra 14,7% de Haddad, que não ganhou em nenhum município. O petista recebeu ainda menos votos do que Ciro, que teve 15,2%. Há quatro anos, Dilma foi a mais votada em 54 cidades fluminenses.

Outro estado que registrou um recuo significativo do PT foi o Rio Grande do Sul. Bolsonaro somou 52,6% dos votos válidos, contra 22,8% de Haddad. Em 2014, a superioridade foi apertada: Dilma conquistou 43,2% dos votos, enquanto Aécio teve 41,4%. Em Minas Gerais, o quadro é semelhante. O candidato do PSL ficou também na primeira colocação com 48,3% dos votos, enquanto Haddad somou 27,6%. Há quatro anos, a candidata petista chegou ao fim do primeiro turno com 43,48% dos votos, e Aécio com 39,75%.

UNIÃO CONSERVADORA

Para Julio Aurelio, da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), Bolsonaro foi capaz de construir uma ampla frente conservadora, diferentemente de Aécio em 2014. Além do desgaste do PT e de outros partidos, a ascensão do candidato do PSL é explicada pela abordagem de "temas republicanos", como segurança pública, corrupção, impunidade e combate a privilégios. Foi um movimento semelhante ao do "caçador de Marajás", do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

— Ele é antissistema porque aparece com essa veste republicana. O centro não faz isso, está todo cheio de denúncias de corrupção. A esquerda também não tem conseguido fazer. O que vejo é que o Bolsonaro se tornou o núcleo de uma ampla frente republicana conservadora. Reúne tudo o que tem de conservador, em suas diferentes gradações. Isso Aécio não conseguiu fazer. Além disso, Dilma não foi o Haddad. Ela tinha uma ampla aliança. Não era só a esquerda. Agora, a esquerda ficou praticamente sitiada. O conservadorismo sitiou a esquerda no Norte e Nordeste — conclui.

Essa confluência conservadora, na avaliação de Julio Aurelio, ocorreu quando Haddad ficou em segundo lugar nas pesquisas, pouco após o ex-presidente Lula ficar oficialmente de fora da disputa.

— O desafio do PT é vencer sua rejeição. O único jeito é encarnar a constituição de 1988. Ser muito amplo. O Haddad é a liderança mais ampla no partido, é quem mais tem trânsito. Mas será muito difícil — analisa Julio Aurelio.

A professora de Ciência Política Maria de Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirma que Bolsonaro conseguiu catalisar a decepção em relação à classe política, que vem desde 2013, e também estabelecer alianças político-partidárias.

— Bolsonaro fez realmente palanque onde o PSDB teve problemas. Geraldo Alckmin tinha uma soma de recursos enorme, mas quem consegue no final maior apoio foi o Bolsonaro. Alckmin não foi exitoso na coordenação eleitoral. Também foi o candidato que mais conseguiu vocalizar a pauta antipetista — avalia.

Para a pesquisadora, no segundo turno, tanto Bolsonaro quanto Haddad terão como desafio atrair setores do centro:

— Bolsonaro terá mais tempo para se expor. Isso pode significar perda de votos, se aparecer inconsistência no debate, inclusive nas propostas. Tudo isso vai ser colocado em xeque. Ao mesmo tempo, o PT também vai se mostrar mais. Terá que colocar seu projeto. É um desafio para os dois. Será o PT tentando atrair setores de centro, setores progressistas, e o Bolsonaro vai ter que fazer o mesmo com o centro e a direita — afirma Maria do Socorro. o globo

 

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