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Segundo turno precisa discutir programas

Em uma campanha fora dos padrões, em que o candidato líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), passou boa parte do tempo hospitalizado, devido ao atentado que sofreu —  sem participar, portanto, de alguns debates e sabatinas —, o primeiro turno confirmou as expectativas de sua vitória.

Chegou-se a prever que ele conseguiria vencer no primeiro turno, dado o crescimento do apoio que passou a ter assim que a candidatura petista de Fernando Haddad acelerou o passo, com a evolução rápida da  transferência de votos que eram destinados a Lula antes de o ex-presidente ser impugnado pela Justiça, com base na Lei da Ficha Limpa. 


Neste momento, entrou em ação de maneira clara uma das características desta eleição, o voto antipetista. Se somado, deve representar a força política mais poderosa hoje no Brasil.

A oposição ao PT é um dos vértices do espaço de radicalização que se abriu nestas eleições, entre direita e esquerda. O partido já havia padecido nas eleições municipais de 2016 pelo comprovado envolvimento de importantes líderes seus em esquemas de corrupção. A partir do mensalão, desde o início do primeiro mandato de Lula (2003-6), até o ápice do petrolão, desarticulado pela Lava-Jato a partir de março de 2014, com Dilma Rousseff em campanha para o segundo mandato.

Estas eleições demonstram que  o eleitorado continuou a cobrar do PT a conta da corrupção e também dos erros crassos na condução da economia cometidos por Dilma, sob as bênçãos de Lula.

Há resultados emblemáticos. Como, em Minas, além da derrota do candidato petista à reeleição ao governo do estado Fernando Pimentel, a frustração da tentativa da ex-presidente Dilma de  entrar no Senado. Até o momento das urnas, pesquisas indicavam que esta espécie de volta por cima seria bem-sucedida 

A onda antipetista apareceu, ainda, no afastamento do senador fluminense Lindbergh Farias do Congresso e também deixava sua marca na derrota em São Paulo de Eduardo Suplicy, na tentativa de voltar ao Senado.

 

Parece também haver outra onda, a bolsonarista. Além do antipetismo, ela é alimentada pela própria guinada ao conservadorismo na sociedade refletida no discurso do candidato e o clamor da população por segurança, por meio do endurecimento do Código Penal e apoio às polícias, também defendidos por Bolsonaro. É o que ficou evidente na projetada vitória, no Rio de Janeiro, do ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC), adversário de Eduardo Paes (DEM) no segundo turno. Há outros exemplos país afora. Caso de Minas, em que Romeu Zema (Novo) — que declarou apoio a Bolsonaro — surge à frente de Anastasia (PSDB), com quem disputará o segundo turno, enquanto, na corrida pelo Senado em São Paulo, o Major Olimpio, do partido do candidato a presidente, chegou na frente.

 

O segundo turno, no caso da eleição presidencial, é a chance que se tem da efetiva discussão de propostas dos candidatos para o enfrentamento dos problemas nacionais. Que são grandes.

 

Por diversos motivos — não estão entre eles o tempo mais curto de campanha —, não se debateram propostas objetivas. Em alguns casos, porque não foram formuladas. Ou, se existiam, deixaram de ser divulgadas. O exemplo mais evidente é do candidato Jair Bolsonaro.

 

Já Fernando Haddad demonstrou herdar um programa de cuja construção não participou. Foi feito para Lula, com um viés de radicalismo com qual Haddad parece não concordar. A ideia ilegal de convocação de uma Constituinte, por exemplo, não conta com o apoio entusiasmado de Haddad.

 

Esta incompatibilidade entre candidato e programa precisa ser esclarecida. E tudo bem esmiuçado, o que também vale para Bolsonaro, por óbvio.

A disputa entre Bolsonaro e Haddad simboliza a radicalização no choque entre direita e esquerda, que se manterá. Nada que possa assustar, se todas as forças políticas se submeterem às regras do estado democrático de direito. Com alguns percalços — resistência do PT a se submeter ao Judiciário, declarações exóticas, algumas retificadas, da chapa Bolsonaro-Mourão —, o primeiro turno transcorreu como se espera num país estável institucionalmente. o globo

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