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População miserável vive esquecida pelo estado em favela nascida nas Olimpíadas

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Enzo, de 5 anos, morador de uma das áreas mais carentes da Cidade de Deus, virou Batman pelas mãos do artista Jorge Gomes: projeto social melhora autoestima de crianças e oferece cursos profissionalizantes - Agência O Globo / Fabiano Rocha
RIO — Nas profundezas da Cidade de Deus, que tem um dos IDHs mais baixos do Rio, existe um lugar ainda mais esquecido pelas autoridades. A “favela da favela”, que surgiu no conjunto habitacional após a Olimpíada de 2016, é chamada pelos próprios moradores de brejo. Os vizinhos a conhecem como Guaranys, porque cresceu às margens da Estrada Comandante Guaranys. Diante de barracos de madeira tão precários que colocam em risco a vida de cerca de 2.500 pessoas que moram lá, de um altíssimo índice de desempregados e de muitas crianças fora da escola, a Defensoria entrou com uma ação civil pública e a Justiça determinou que fosse realizada uma perícia na localidade que sofre pela total falta de uma infraestrutura mínima.
 

Para evitar uma tragédia, a população da comunidade criou regras rígidas que inviabilizam até o uso de um simples chuveiro elétrico. Por serem frágeis e feitas com poucos recursos, as casas estão sujeitas a incêndios. Como aconteceu há uns dois anos, quando um curto-circuito numa das residências quase destruiu outras quatro e, por pouco, não transformou tudo em cinzas. Hoje, toda a área, que abrange as ruas do Céu, do Amor e da Portelinha, só recorre ao “gato” — ligação clandestina — para ter o básico: água e luz.

A defensora Maria Júlia Miranda, coordenadora do Núcleo de Terras e Habitação, explica que a ação judicial está em fase de produção de provas, mas ela se preocupa:

— Todos ali vivem numa vulnerabilidade muito grande.

Enquanto a Justiça não bate o martelo e os serviços públicos não chegam, cerca de 50 voluntários do projeto Nóiz, criado por um grupo de amigos, deram início a ações sociais, principalmente, de educação infantil e de cursos de profissionalização. O primeiro deverá ser de instalação hidráulica predial, que já tem até fila de interessados.

 

FORA DA SALA DE AULA

O projeto pretende fazer um diagnóstico social do lugar que reúne histórias como a de Joana Célia da Conceição, de 52 anos, que sobrevive de uma birosca onde vende de biscoito a cachaça. É uma das poucas a ter um ganha-pão. Conquista de uma vida dura em que perdeu sete dos 12 filhos. Atualmente, ela mora com os cinco que restaram e a nova geração que chegou. A filha Suelen, de 19 anos, que já lhe deu um neto e está grávida de outro, e Cyntia, de 20, que também tem um garoto. Na escadinha, estão ainda Leylane da Conceição, de 13, Luana, de 12, e Liliane, de 7. Todos se espremem num único cômodo e dão conta de dormir num velho sofá ou no chão.

Crianças e adultos que vivem na área conhecida como “brejo” moram os construções de madeira, com risco de incêndio - Fabiano Rocha / Agência O Globo

—A gente ri para não chorar — diz Joana, que por toda a vida foi faxineira na construção civil e há cinco meses está desempregada.

Ainda sem solução para todos os problemas, o Nóiz tenta oferecer atividades que melhorem a autoestima e levem alegria para a comunidade. Como noticiou a coluna de Ancelmo Gois, o artista plástico Jorge Luís Gomes foi convidado a pintar as crianças como super-heróis. Um dos modelos é Enzo ou Batman, de 5 anos,que nunca foi à escola — porque os pais alegam não terem conseguido vaga. Ele chegou, aos 2 anos, ao Brejo, vindo com a família da Bahia.

— Para sobreviver aqui, eles precisam de superpoderes — acredita Jorge.

Fundador do Nóiz, o publicitário André Melo afirma que luta para que as crianças tenham um futuro:

 

— Não podemos perdê-las para o tráfico.

SEM VAGA EM CRECHE

Apesar de famílias reclamarem da falta de vagas, a Secretaria municipal de Educação, por nota, informou que a rede conta hoje com 1.472 alunos de educação infantil (creche e pré-escola) matriculados na Cidade de Deus. O órgão não fez, no entanto, um recorte para o Brejo, que não conta com estatísticas à parte. A pasta disse ainda que há hoje cerca de 76 mil crianças em creches e EDIs (Espaços de Desenvolvimento Infantil) e unidades conveniadas. Mas reconheceu que atualmente há 35.258 crianças na fila de espera por uma creche. Uma das promessas do prefeito Marcelo Crivella é criar mais 20 mil vagas em creches até 2020, número que já está bem abaixo da demanda atual do município.

De acordo com a secretaria, pais e responsáveis que não matricularam seus filhos no período formal de atendimento este ano devem buscar orientação junto à Coordenadoria Regional de Educação.





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