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Do tempo em que o PT fervia

O PT denuncia golpe, mas faz acordo para apoiar candidatos de DEM e PMDB em Brasília, indica tucano para o governo do Ceará e não sabe se é oposição ou aliado na Câmara de Fortaleza. Esse quadro é em grande parte resultado de processo que ocorreu ao longo dos anos de poder. Os 13 anos no governo gradualmente sufocaram o que era a maior virtude do PT. Diferente de quase todas as demais siglas, os petistas tinham vida partidária efervescente. Vivia em estado de permanente ebulição e tudo era discutido. O “assembleísmo”, como reclamavam os críticos, era ruim para o governo, mas fazia o partido pulsar.

Curiosamente, o período de melhores resultados do governo Luiz Inácio Lula da Silva foi mais prejudicial para essa característica interna do que haviam sido as crises. Os tempos mudaram e admira a passividade com a qual a legenda tem atravessado o turbilhão do ano passado para cá.

Por mais que se discorde do impeachment e que se questione muita coisa, há diversas e gravíssimas acusações irrefutáveis contra o governo do PT e contra petistas. Há membros do partido que foram importantíssimos e confessaram ao menos parte das fraudes que lhes são atribuídas.

São os casos do ex-líder da bancada no Senado, Delcídio do Amaral, e do ex-tesoureiro, Paulo Ferreira. Além do publicitário João Santana, que se tornou o mentor da comunicação de Dilma Rousseff (PT). Sem falar de vários empreiteiros que confessaram e, com isso, incriminaram-se ao relatar as operações criminosas que desenvolveram com o partido. Em outros tempos, o tamanho do escândalo provocaria profundos debates internos, convocação de congresso do partido. Provavelmente derrubaria a direção. Isso ocorreu na época do mensalão, muito menos grave que a corrupção constatada na Petrobras. Dessa vez, porém, o que ocorreu foi: nada.

Muitos petistas realmente minimizam o tamanho do escândalo. Acham natural que um governo instaure tamanho esquema corrupto. Ou acham que os fins justificam os meios. Essa mentalidade, a prevalecer, fatalmente levará o partido à extinção. A denúncia dos abusos que efetivamente existiram no processo de impeachment serviu para encobrir a necessidade urgente de autocrítica e transformação interna.

Mas, em grande parte, a letargia é reflexo de um partido que anestesiou seus fóruns e debates internos. Isso deu mais tranquilidade aos governos petistas. Todavia, a dormência não acabou quando o partido deixou o poder.

Acordar a militância não é algo instantâneo. Os tempos mudaram, as formas de atuação também. É possível que aquilo que o PT foi matando nunca mais exista. Assim, terá acabado a maior virtude daquela que já foi uma das mais interessantes experiências de formação de partido do Brasil.

Da Coluna Política, no O POVO deste sábado (14), pelo jornalista Érico Firmo.

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