“A austeridade como valor administrativo”,
Chama a atenção como o Governo do Ceará e a Prefeitura de Fortaleza vêm cortando cargos em larga escala, promovendo grandes economias no pagamento de pessoal, sem que ocorram quedas aparentes na qualidade dos serviços públicos. Ou melhor, os serviços públicos não eram de qualidade exemplar, mas não há, até aqui, registro de que tenham piorado com os cortes.
No setor privado, para fazer mais com menos, o caminho é melhorar a produtividade da mão de obra e agregar tecnologia. Como sabemos que há tempos o setor público não projeta programas de eficiência administrativa e qualificação dos servidores, entende-se que os cortes de pessoal não levam à piora do serviço público por um simples fato: a mão de obra cortada era, na verdade, desnecessária. Jamais deveria ter sido contratada.
Muito provavelmente, parte significativa dos cortes atingiu pessoal de indicação política que ocupava cargos de confiança ou terceirizados. Na prática, tais cargos funcionam como uma bolsa política regiamente renumerada – a bolsa governabilidade. A crise econômica, que obrigou o setor público a se reinventar, acabou sendo reveladora da distorção vigente. Ainda há muito a se fazer.
Nossos governantes ainda têm dificuldade de entender que, ao promover cortes de gastos que, muitas vezes, têm valor simbólico, estão sinalizando para a sociedade um valor moral e ético. Uma linha de comportamento que serve para passar a ideia de que cuidará do dinheiro de todos com a devida austeridade.
Porém, há cuidados que devem ser tomados. A adoção da austeridade como guia exemplar da gestão pública deve ser encarada como um valor permanente. Não pode ser uma prática para inglês ver ou movida por factoides midiáticos. Não adianta cortar e exigir sacrifícios dos outros e, ao mesmo tempo, jogar dinheiro público fora doando, por exemplo, para times de futebol.
A ideia de austeridade, resumida na prática de gastar menos do que se arrecada, com responsabilidade, e respeitando o conjunto de regras fiscais, é o melhor fruto da maior crise econômica de nossa história. Que se torne um fruto permanente e corriqueiro nas administrações públicas.