Após operação da PF, filhos e aliados tentam blindar Bolsonaro, mas Centrão se cala
Por Gabriel Sabóia e Camila Turtelli— Brasília / O GLOBO
Depois da operação da Polícia Federal que prendeu cinco acusados de arquitetar um plano para matar o presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, aliados de Jair Bolsonaro (PL) alinharam o discurso para blindar o ex-presidente e o general Walter Braga Netto, vice da chapa derrotada em 2022. Lideranças do Centrão que foram próximas a Bolsonaro durante o mandato dele, no entanto, não se manifestaram até agora sobre a investigação.
Entre eles, estão o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador e presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, que foi ministro da Casa Civil na gestão do ex-presidente. Lira chegou a ser perguntado sobre a operação ao adentrar a Casa na terça-feira, mas disse que não falaria do assunto. Ele, Valdemar e Ciro Nogueira foram procurados pelo GLOBO para se manifestar, mas não o fizeram.
Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), classificou as revelações da Polícia Federal como “extremamente preocupantes” e ressaltou que o grupo “tramava contra a democracia, em uma clara ação com viés ideológico”. A revelação do plano — cujo documento com os detalhes táticos para a execução foi imprimido dentro do Planalto — evidencia, segundo integrantes da política e do Judiciário, que não é possível falar em anistia a golpistas no momento. Os bolsonaristas, contudo, discordam.
— Às vezes falamos coisas da boca para fora, não há crime nisso. Os atos introdutórios não são crimes. Precisamos de uma anistia para passar uma pedra nessa história do Brasil — afirmou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Eduardo segue a estratégia de martelar que, se o ato não foi consumado, não há motivos para penalizar os investigados. Apesar disso, o crime de abolição do Estado Democrático de Direito também inclui o verbo “tentar”. Com o planejamento e parte da execução do plano já em mãos das autoridades, há uma vereda aberta para que as acusações sejam feitas.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) adotou discurso semelhante.
— Essa situação de hoje não era nem para ter inquérito aberto. Vontade de matar alguém, todo mundo alguma vez na vida já teve. Por mais que seja abominável esse sentimento, não é crime — disse durante sessão da Comissão de Segurança Pública.
‘Terceiro escalão’
Ao GLOBO, Flávio avaliou que os militares presos eram agentes de “segundo ou terceiro escalão”, e que o pai não pode ser responsabilizado pelos atos de outras pessoas. Alegou ainda que a operação é uma forma de desgastar a imagem política do ex-presidente.
Na terça-feira, foram presos quatro militares e um policial federal. Entre eles, está o general Mário Fernandes, que foi ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência. De acordo com as apurações, uma reunião para debater a ideia dos assassinatos teria acontecido na casa de Braga Netto. O ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice em 2022, no entanto, não foi preso até o momento.
Líder do PL na Câmara, o deputado Altineu Côrtes (RJ) vai na mesma linha de Flávio para desvincular o general do caso:
— Quem era contra a anistia vai usar os fatos dessa operação para jogar gasolina. Não vejo conexão entre isto e o 8 de janeiro. Não conheço esses militares citados, mas conheci o general Braga Netto já na política e posso dizer que ele é de finíssimo trato, não é capaz de matar uma mosca.