Empoderado e messiânico, Trump se vinga e volta à Casa Branca
Guga Chacra / O GLOBO
Na maior volta por cima da História dos Estados Unidos, Donald Trump venceu as eleições presidenciais e retornará para a Casa Branca quatro anos depois de ter sido derrotado na sua tentativa de reeleição. Condenado na Justiça, alvo de uma série de processos e com um discurso antidemocrático, o republicano venceu nas urnas em uma derrota humilhante para os democratas. Seu retorno possui contornos messiânicos especialmente após ter sobrevivido por milímetros a uma tentativa de homicídio e quase ter sido alvo de outra.
A vitória o consolida como a maior figura da história política dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial. Mesmo Ronald Reagan e Barack Obama não tiveram um impacto da mesma dimensão no cenário americano. O presidente eleito conseguiu transformar completamente o Partido Republicano, historicamente pró livre-comércio e com forte viés intervencionista em política externa, em uma agremiação isolacionista e protecionista.
Nos anos 1980, Trump era apenas uma celebridade nova-iorquina ligada a cassinos que acabaram quebrando ao longo da década seguinte. Nascido no Queens e com sua torre de arquitetura controversa na Quinta Avenida no coração de Manhattan, passou a vender seu nome para empreendimentos imobiliários antes de se tornar um bem-sucedido apresentador de TV no programa "O aprendiz" no início dos anos 2000.
Com a eleição de Obama, Trump usou todo o seu repertório racista já célebre em Nova York para questionar se o então presidente havia nascido mesmo nos EUA. Nessa época, ainda era motivo de chacota e foi alvo de piadas feitas pelo próprio Obama em jantar dos correspondentes internacionais. Em uma primária recheada de governadores e senadores populares, Trump lançou sua candidatura em 2015. No início, não o levaram a sério. Meses depois, se tornaria o vencedor das prévias. Era a primeira volta por cima do republicano.
Contra Hillary Clinton, concorreu como zebra. A ex-secretária de Estado despontava como favorita. Quando começaram a apurar os votos naquela noite de novembro de 2016, Trump começou a vencer uma série de estados e, apesar de perder no voto popular, acabou ganhando no Colégio Eleitoral. Nem mesmo ele parecia acreditar na vitória já que celebrou em um salão de um hotel decadente próximo à Times Square.
Na sua primeira Presidência, Trump fracassou na tentativa de implementar algumas de suas políticas mais radicais em grande parte por ter sido bloqueado por membros de seu governo, incluindo alguns generais. Desta vez, o republicano já deixou claro que nomeará figuras leais a ele, ainda que não possuam a mesma experiência. Promete ainda se vingar de adversários ou de pessoas que, na visão dele, o perseguem. A oposição democrata, humilhada e precisando se reerguer, não deve fazer sombra ao seu governo.
Seu retorno terá impacto gigantesco nos EUA e no resto do mundo. Não se trata de um governo comum. Seu discurso xenófobo agora possui amparo das urnas. Internamente, a imigração e a economia devem ser o seu foco. No campo externo, a guerra na Ucrânia será a grande guinada, com o republicano defendendo uma negociação para um cessar-fogo e o fim da bilionária ajuda militar americana para os ucranianos. Essa postura deve provocar atrito com aliados dentro da Otan, a aliança militar ocidental liderada por Washington.
No Oriente Médio, talvez as mudanças sejam menos acentuadas em um primeiro momento já que tanto a guerra em Gaza quanto a no Líbano possuem seu ciclo próprio, e o republicano deve repetir o presidente Joe Biden ao adotar uma postura pró-Israel. Ao longo dos próximos quatro anos, poderemos ter ainda muitas surpresas no governo do agora empoderado presidente eleito dos EUA.