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É preciso ser mais firme na repressão às queimadas

Por Editorial / O GLOBO

 

 

A seca severa e a baixa umidade têm favorecido a profusão de focos de incêndio que espalham fumaça por quase todo o país, causando transtornos que vão muito além do problema ambiental. Ficaram evidentes nos últimos dias as implicações na saúde e na infraestrutura, com aumento de atendimentos por doenças respiratórias, interdição de estradas e suspensão de voos. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) relacionou 70 cidades onde, até a penúltima semana de agosto, não havia caído uma gota de chuva sequer em mais de cem dias.

 

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostram que, de janeiro até o último dia 24 de agosto, haviam sido detectados quase 105 mil focos de incêndio em todo o país, marca superada apenas pela de 2010, quando foram registrados perto de 119 mil focos entre janeiro e agosto. A quantidade de incêndios neste ano já é 75% maior do que em 2023. Apenas no Estado de São Paulo, as 3.482 ocorrências de agosto representam um recorde desde 1998, quando começou a medição.

 

Mas não se pode atribuir apenas às condições climáticas os incêndios que transformaram o Brasil num festival de fumaça. O próprio presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, afirmou que as queimadas surgidas de forma natural são exceções. “Quase todo incêndio no Brasil é criminoso”, afirmou. “Não temos incêndio espontâneo, e são raros os casos de acidente, como um caminhão que pegou fogo ou a queda de um cabo de alta tensão.”

 

No domingo, quando Brasília amanheceu envolta em fumaça, e quase 50 municípios de São Paulo estavam em alerta máximo para incêndios, o alarme enfim soou no Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma reunião de emergência com a ministra do Meio AmbienteMarina Silva, para tratar das queimadas. Ela disse que estão em curso inquéritos para descobrir a origem do fogo e que a PF investiga mais de 30 casos.

 

Em 2020, a própria Marina criticava a “postura inescrupulosa” do então presidente Jair Bolsonaro e a “falta de medidas do governo” para conter os incêndios que faziam arder o Pantanal. Agora, aponta para fatores naturais ou ação criminosa.

 

A verdade é que o Brasil está queimando faz tempo. Se o governo falhava então, continua falhando agora. Mesmo reconhecendo o problema, tem demorado a agir, ou agido de forma tímida. A crise não vai se resolver com acusações, enquanto o risco para a cobertura florestal brasileira só faz crescer.

 

Para deter o aquecimento global, é vital não permitir que sistemas naturais de captura de gases do efeito estufa por florestas e oceanos passem a funcionar ao contrário, emitindo gases. O mundo já corre o risco de que a alta da temperatura até o final do século ultrapasse o 1,5 °C acima dos níveis da era pré-industrial, objetivo traçado no Acordo de Paris. Não há alternativa a não ser reduzir as emissões — e rápido. O descontrole da temperatura planetária nos últimos meses tem desafiado as previsões mais pessimistas.

 

É certo que, devido às mudanças climáticas, secas e incêndios florestais se tornaram mais frequentes e intensos. Por isso mesmo o governo precisa ser mais firme na repressão às queimadas. É importante ampliar o número de brigadistas e de aeronaves de combate ao fogo. Mas mais importante é impedir que o fogo comece, e nisso o governo tem falhado. Poderia começar investigando e punindo os responsáveis pelos incêndios criminosos.

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