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Situação precária da internet na escola pública desperta preocupação

Por Editorial / O GLOBO

 

A internet por si só não pode trazer a melhoria na qualidade do ensino de que o Brasil precisa, mas sua ausência e precariedade na rede pública certamente tornam a tarefa mais difícil. Assim como outros programas de governo, o Escolas Conectadas foi lançado em Brasília em setembro do ano passado, com promessa de investimento para conectar a rede pública do ensino básico à rede de banda larga. Mais de nove meses depois de lançado, o cenário não é nada animador.

 

O Ministério da Educação (MEC) anunciou investimentos de R$ 8,8 bilhões para comprar equipamentos e treinar as equipes. É um volume razoável de recursos, cuja aplicação precisa ser feita com transparência e controle, para que não se repitam desvios já ocorridos na aquisição em massa de computadores por governos.

 

Por enquanto, preocupa a lentidão na execução do programa. Levantamento do GLOBO a partir do Sistema de Medição de Tráfego de Internet (Simet) revelou que 81% das 71,1 mil escolas com dados disponíveis (ou 57,6 mil) têm conexão de qualidade “ruim” ou “péssima”. Apenas 19% (13,5 mil) contam com sinal de internet considerado “bom” ou “ótimo”. O Censo Escolar de 2023 encontrou 15,7 mil escolas desconectadas da rede, ainda na era analógica.

 

Outro problema grave é que os gestores das secretarias de Educação nos estados e municípios não monitoram a qualidade da conexão de 77.715 escolas, 48% dos 138 mil estabelecimentos de ensino do país. Isso acontece, segundo o MEC, porque elas não contam com o software que mede a velocidade de conexão. Mas essa tarefa é trivial. Pode ser realizada em dezenas de sites gratuitos por qualquer navegador.

 

Atenção especial precisa ser dada às regiões menos desenvolvidas. No Amapá, em 80% das escolas (ou 637 de 787) os gestores não sabem a qualidade da conexão à internet. O mesmo acontece em Roraima (86%) e no Acre (82%). O MEC diz que as primeiras a ser atendidas serão as escolas sem banda larga, 79% das quais estão nas regiões Norte e Nordeste.

 

Conexão de baixa qualidade e falta de monitoramento da velocidade do acesso existem em todas as regiões, independentemente do estágio de desenvolvimento. A pior situação é a de Mato Grosso do Sul, onde 64% da rede escolar tem conexão de má qualidade. Mesmo em São Paulo o índice é de 51%, enquanto 36% dos estabelecimentos escolares não monitoram a velocidade de conexão. No Rio de Janeiro, os índices para os mesmos parâmetros são 48% e 38%. No Sul, o Paraná aparece com 57% de escolas mal conectadas e 23% sem monitoramento de velocidade.

 

O acompanhamento desses indicadores é importante para as secretarias de Educação saberem se as escolas têm condições de navegar na internet sem dificuldades. Mas isso de nada vale se não houver um projeto pedagógico competente, executado por bons professores, para que as ferramentas digitais resultem em aprendizado para os alunos.

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