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Devastação em série

O ESTADÃO DE SP

 

A degradação do Cerrado e da Amazônia retroalimenta os incêndios no Pantanal e escancara o descaso sistêmico do País com seus biomas. O enfrentamento da devastação ambiental e das mudanças climáticas, cada vez mais extremas, exige do governo federal ações efetivas. De nada servem as bravatas do presidente Lula da Silva, que vende ao mundo o palavrório em defesa das florestas, enquanto a destruição avança Brasil afora.

 

A fúria do fogo no Pantanal espanta ao ameaçar uma região que levou milhões de anos para se consolidar como a maior área alagada do planeta. O nível do Rio Paraguai está mais de três metros abaixo do esperado, o que fez a Agência Nacional de Águas (ANA) decretar escassez hídrica crítica. A seca chegou mais cedo. A ação humana – não raro criminosa – intensificou a propagação do fogo, abastecido por matéria orgânica abundante no solo.

 

A receita perfeita da tragédia deixou um saldo de mais de 3,5 mil focos de queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mas o drama não é localizado.

 

De acordo com dados do WWF-Brasil, 84% das cabeceiras dos rios do Pantanal estão no Cerrado, onde o desmatamento prospera, e 16%, na Amazônia, que também sofre com incêndios, mesmo após o governo Lula da Silva já ter sido alvo de críticas pela letargia na reação a queimadas no ano passado. Como afirmou ao Estadão Daniel Silva, especialista em Conservação do WWF-Brasil, trata-se de “um ciclo vicioso”.

 

Os números são alarmantes. Em 1985, primeiro ano da série histórica dos dados do MapBiomas, a região onde se encontram as nascentes dos rios pantaneiros tinha mais de 60% de vegetação nativa remanescente, ante menos de 40% nos dias atuais. Não à toa o Pantanal foi o bioma que mais secou nos últimos 40 anos – dos quais 15 deles governados pelo lulopetismo. Logo, não é possível à atual gestão ignorar seu passado.

 

O combate ao fogo no Pantanal não foi antecipado, apesar de alertas de que as queimadas chegariam mais cedo – a temporada de incêndios se concentra no segundo semestre. Em junho, com esse bioma já em chamas, foi firmado um pacto do governo federal com dez Estados para conter queimadas pelo País. Mais tarde, recursos foram anunciados para contornar o problema.

 

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, preferiu culpar a mudança do clima, El Niño, La Niña, as ações humanas e o Congresso – sem reconhecer a falta de real empenho político de seu chefe em articular soluções para o problema. Até agora, nem promessa de campanha Lula da Silva conseguiu cumprir. Prevista para implementar e fiscalizar iniciativas ambientais em todos os ministérios, a Autoridade Climática, por exemplo, hiberna em alguma gaveta do Palácio do Planalto.

 

O governo poderia investir pesado em pesquisas para otimizar ainda mais a agropecuária, acelerar a recuperação de pastos degradados e empregar todos os esforços para combater o desmatamento. A proteção dos biomas exige uma resposta mais vigorosa do governo, perdido entre a inércia e a demagogia.

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