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Campos Neto: Nunca liguei para Guedes para dizer que ia mudar para A, B ou C; não farei isso agora

Por Alvaro Gribel Célia Froufe (Broadcast) / O ESTADÃO DE SP

 

Em sua primeira entrevista exclusiva depois da reunião do Copom que reduziu o ritmo de cortes de juros e causou divisão entre os diretores do Banco Central, o presidente do órgão, Roberto Campos Neto, defendeu a forma de o BC se comunicar e de mudar o chamado “guidance”, ou a orientação sobre a política monetária. Questionado sobre se poderia ter informado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que mudaria essa orientação, antes de um evento para investidores em Nova York, Campos Neto afirmou que nunca fez isso, nem no governo anterior, e que não o fará agora.

 

“Já teve muitas mudanças de guidance - estou aqui há seis anos - e em nenhum momento passou pela minha cabeça ligar para o ministro Paulo Guedes para falar que eu achava que o guidance ia mudar para A, B ou C. É uma prerrogativa do Banco Central, que tem autonomia. Nunca fiz isso no governo anterior e com certeza não planejo fazer neste”, afirmou.

Segundo ele, os diretores do Banco Central chegaram a discutir internamente os efeitos da divisão do colegiado - que decidiu, por 5 a 4, cortar a Selic em 0,25 ponto porcentual (pp) - e que isso levaria a vários tipos de interpretação pelo mercado financeiro. Mas, ao fim, o entendimento foi de que era importante que cada um tivesse a sua opinião.

 

“Chegamos à conclusão de que, do jeito que o voto se desenhou, poderia ter vários tipos de interpretação. A gente entendia que era importante cada um seguir com a sua opinião, e entendemos que aquela divisão teria tempo de explicar. Que a reunião foi baseada em aspectos técnicos”, afirmou.

 

Campos Neto também afirmou que vários diretores haviam expressado dúvidas sobre o ritmo de cortes da Selic, pela mudança no cenário internacional e também interno. E que não houve divergência em relação às “condicionantes” do cenário, mas se elas seriam suficientes para justificar um corte menor dos juros.

 

“Todo mundo nesta reunião achou que as condicionantes eram relevantes. A questão é: dado que a gente tinha um guidance, dado que havia uma conversa sobre diminuir o ritmo, de 0,5 pp para 0,25 pp, o que a gente achava que era relevante e que justificava isso? Aí sim teve divergência”, disse.

 

A última reunião do Copom gerou bastante ruído, com a divisão de quatro diretores em relação à comunicação formal do Banco Central. Que balanço o sr. faz desse episódio?

 

Estamos trabalhando dentro do padrão. Temos poucas comunicações oficiais: ata, relatório de inflação, algumas reuniões. Quando o mercado muda, alguma coisa acontece, e você quer passar uma mensagem, a preocupação é que nunca seja em um ambiente fechado. A informação tem de chegar para todos ao mesmo tempo. Além disso, não existe entre nós nenhum tipo de regra ou arranjo que alguém precise consultar o outro. Cada um tem liberdade de expressão. Vários diretores falaram coisas durante os últimos cinco anos que mexeram com o mercado, e em nenhum momento eu falei: ‘Poxa, falou algo que tinha de ser combinado’. Não temos essa regra no Banco Central do Brasil, nem pretendemos ter. Como teve a notícia do fiscal no Brasil (de alteração da meta), e na mesma semana uma mudança no cenário dos EUA, uma fala mais dura (por parte do BC brasileiro), tentando qualificar mais, evitasse uma desancoragem maior da inflação. Foi uma conjunção de fatores.

 

Mas os diretores ainda pretendem conversar sobre a comunicação?

 

A gente valoriza a comunicação. Mas acontece que há mudança de cenários em momentos em que não temos comunicação formal. E aí vale a regra que eu mencionei.

O ministro Fernando Haddad teria ficado incomodado de saber sobre a mudança pela imprensa. O sr. acha que era o caso de ter falado com ele antes?

Já teve muitas mudanças de guidance – estou aqui há quase seis anos – e em nenhum momento passou pela minha cabeça ligar para o ministro Paulo Guedes para falar que eu achava que o guidance ia mudar para A, B ou C. É uma prerrogativa do Banco Central, que tem autonomia. Nunca fiz isso no governo anterior e com certeza não planejo fazer neste.

 

No seminário do BC na última quarta-feira, o sr. falou além do roteiro previsto. Foi um desabafo, em razão do Copom?

 

Não teve desabafo nem nada diferente disso, só queria fixar as mensagens que em parte já estavam no discurso. É uma estratégia já de muito tempo ressaltar pontos para ficarem três ou quatro mensagens fixadas......

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