Inflação em baixa
A inflação proporcionou uma nova surpresa positiva em outubro. A variação do IPCA, índice de preços ao consumidor que serve de referência para o Banco Central, foi de 0,24%, enquanto as expectativas rondavam 0,29%. Em 12 meses, a taxa caiu de 5,2%, medidos em setembro, para 4,8%.
A tendência de redução deve continuar nos próximos meses. As projeções atuais de analistas indicam que o IPCA deve encerrar este ano e o próximo com altas de 4,6% e 3,9%, respectivamente.
Mais importante, o comportamento dos itens com pressões de preços mais persistentes, como serviços, mostra sensível melhora, o que certamente agrada ao BC.
Em suas comunicações recentes, a autoridade monetária vem destacando que o processo de desinflação no Brasil seguirá dois estágios.
O primeiro, já em grande medida completo e independente da política de juros, incorpora a normalização das condições de oferta e demanda legados pela pandemia e a dissipação dos efeitos de conflitos geopolíticos nos preços globais das matérias-primas.
A preocupação do BC, repetida nos últimos meses, diz respeito à segunda fase, mais vinculada às condições domésticas.
De um lado, a forte expansão de gastos públicos e a postura leniente do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação aos compromissos de controle orçamentário tendem a impulsionar a inflação.
Em contrapartida, os juros ainda muito elevados e o esperado esfriamento da economia nos próximos meses sugerem desaceleração dos preços, mesmo diante de riscos internacionais salientados pelo BC —como persistência dos juros internacionais em alta, novos conflitos geopolíticos e renovadas pressões nas matérias-primas.
É notável, ademais, que a inflação no Brasil seja hoje próxima ou até inferior à observada em países desenvolvidos, evidência clara do sucesso obtido pelo BC a despeito das críticas ligeiras e imprudentes de parte do governo e do PT.
Diante desses resultados, fica preservado o espaço para a continuidade do ciclo de cortes da taxa de juros nos próximos meses, talvez para 9% até meados de 2024.
O alívio significativo do torniquete monetário é essencial para que se possa antever um cenário econômico mais promissor. Contribuir para que tal cenário se realize é tarefa essencial do Executivo —que tem falhado na missão de restabelecer a segurança fiscal.