O Enem e o atraso mental do Brasil
Por William Waack / O ESTADÃO DE SP
Professores independentes que formularam uma das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no último domingo, 5, praticaram uma dupla barbaridade intelectual.
Conseguiram negar a ciência e ofenderam boa parte dos acadêmicos, técnicos, professores e pesquisadores que levaram o Brasil a ter duas grandes histórias de sucesso: na agricultura e na indústria aeronáutica.
Esses professores independentes, na verdade, independentes de qualquer rigor e honestidade intelectual, submeteram os jovens que prestam o Enem a uma tortura ideológica, especificamente em relação à agroindústria, um setor no qual, segundo esses professores independentes que trabalham para o Ministério da Educação, impera a exploração, o descaso com a saúde dos seres humanos e do planeta, a violência e a impossibilidade dos camponeses de serem camponeses.
O texto de uma publicação obscura que serviu de base para a pergunta aplicada no Enem ataca até mesmo a Embrapa e os programas para uso de biocombustíveis. Ambos — Embrapa e biocombustíveis — prejudicariam a classe camponesa. Os clichês e chavões ideológicos, na verdade, nem chegam a ser o pior dos problemas. O maior desses problemas é ensinar jovens a pensar errado.
O que fez o Brasil construir aviões vendidos no mundo inteiro e o que fez o Brasil virar uma superpotência na produção de alimentos foi pesquisa, tecnologia e capacitação de pessoas. Diga-se de passagem: tudo isso iniciado e conduzido por instituições estatais como a Embrapa e o ITA/Embraer, no caso dos aviões.
As ideias erradas empurradas para cima de jovens por esse tipo de postulado ideológico explicam muito das nossas dificuldades em crescer e em gerar prosperidade. É o nosso atraso mental.