Quando agir e quando esperar - FCO FERRAZ
Saber quando agir e quando esperar é um conhecimento que distingue o verdadeiro príncipe sábio dos governantes comuns. Os inimigos do príncipe estão sempre esperando por uma oportunidade para a conquista do poder.
Governar é mandar, decidir; mas governar é também saber que por vezes é sábio fazer concessões para evitar que as divergências se transformem em ódio. Mas a concessão deverá ser feita no tempo certo e na medida certa. Concessão no tempo certo pode ser definida como a regra de prudência que aconselha a faze-la:
“…quando eles ainda não são tão fortes a ponto de poder exigi-las e o príncipe não é mais tão forte, para continuar negando-as.”
A decisão mais comum dos governantes não é a antecipação. Esta é a razão pela qual muitos são derrubados pelos seus inimigos. Antecipar-se é agir antes que as causas dos problemas amadureçam, antes que se revelem por completo. Portanto, para o governante, antecipação implica sempre em risco.
O problema está em saber distinguir uma atitude da outra. Isto é, quando se deve esperar para agir, e quando o correto é antecipar-se.
A reação mais frequente dos governantes é não ceder à pressão dos adversários. Ceder lhes parece um sinal de fraqueza política, o reconhecimento de que se estava errado, portanto, um “remédio amargo de engolir”.
Mas é preciso estar atento. O sinal de alerta para a necessidade de antecipação é a presença de uma situação de agravamento crescente. Nestas situações, o príncipe pode evitar que as queixas se transformem em revolta se concessões forem feitas “quando os revoltosos não sejam tão fortes para exigi-las e o príncipe também não for mais tão forte para poder nega-las”.
Como as queixas precisam ser públicas para ganhar apoio, o príncipe encontrará muito do que precisa saber na maneira como os inimigos conduzem sua luta. O inimigo perigoso é o que dispõe sua ação de menos para mais. Assim vai adquirindo informações preciosas sobre o poder verdadeiro do governante.
Agindo com cautela e observando as ações do inimigo, o príncipe deve estar atento à maneira como agem os próprios adversários: a queixa de hoje, torna-se a exigência mínima de amanhã, e a imposição de depois de amanhã. O que o príncipe não pode fazer é assistir ao agravamento dos problemas passivamente.
Em situações como essas, o príncipe tendo sua autoridade contestada; assistindo impotente seus súditos criarem movimentos de revolta contra seu governo; presenciando a emergência de novos líderes populares e agressivos ; acompanhando, com justa preocupação, a escalada de exigências e o aumento da agressividade; sentindo-se então ameaçado no seu poder, decide por fim fazer concessões que não são mais gestos de sua vontade desimpedida e livre, e sim uma rendição à pressão que está sofrendo, ao temor de ser derrubado do poder.
Por outro lado, situações em que a insatisfação do povo não se manifesta de modo crescente, que os fatos não se acumulam de forma a agravar mais a situação é prudente esperar, observar e pensar, para que se consiga obter uma visão mais precisa e realista da situação antes de agir.
Prudência política neste caso não equivale, pois, nem à ousadia que precipita a ação e agrava a situação, nem tampouco a timidez ou arrogância, que travam a ação, quando ela era necessária.
O príncipe, portanto, nunca deve esquecer a advertência de séculos:
“Problemas sérios, no início, são difíceis de identificar, mas são fáceis de resolver; com o tempo, eles tornam-se fáceis de reconhecer, mas difíceis de resolver.”
Blog do Maquiavel – Textos escritos pelo prof. Francisco Ferraz nos quais um fictício Maquiavel responde dúvidas, questões e sentimentos que sua obra “O Príncipe” causou em quem a leu, e na quase totalidade o criticam por sua concepção negativa da natureza humana e sua brutalidade e amoralismo na política.