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Mentir para um jornalista - FCO. FERRAZ

No catálogo dos grandes erros ao lidar com a imprensa figura em primeiro plano o erro fatal de mentir para um jornalista. Nas relações entre candidatos e jornalistas há regras não escritas, mas nem por isso menos vinculativas, que regulam o comportamento de ambas as partes. Estas regras são poderosas e são efetivamente praticadas porque a punição ao seu desrespeito é imediata e fica a cargo da parte que foi prejudicada pelo comportamento.

Mentir para um jornalista é um grave desrespeito a essas regras e um erro crasso da parte do candidato, pelo qual ele pagará um preço elevado. Exatamente para evitar esta possibilidade há várias formas legítimas à relação, pelas quais o candidato pode evitar alguma declaração que não lhe interesse fazer.

Formas de falar com um repórter

A primeira, e óbvia, é fazer a declaração, responder a pergunta. É óbvia porque, na maior parte das vezes, você quererá responder a pergunta e fazer sua declaração para aparecer na mídia com a sua posição sobre a questão.

Mas pode ser que o assunto seja mais delicado e você não queira aparecer falando sobre ele. É claro que o repórter, diante de sua resistência, vai ter sua curiosidade aguçada e vai insistir ainda mais com você.

Frente a esta situação você tem 3 alternativas.

1) Ficar em “background”

Esta é a situação em que você fala sobre o assunto, ou conta uma confidência, ou dá sua posição, mas antes de falar avisa que vai ficar em “background”, isto é, você não se importa que a matéria seja publicada, mas exige que não haja menção ao seu nome. Se o jornalista concorda com o background, então fique tranquilo que a combinação será mantida;

2) Ficar em “background profundo”

Nesta situação, não apenas seu nome não deve ser mencionado, como também as palavras que você usou para comentar o assunto também não devem ser usadas. Somente o seu pensamento sobre o assunto, redigido no estilo próprio do jornalista, pode ser usado para divulgação;

3) Declaração “em off”

Finalmente, existe a situação em que você dá uma informação para o repórter para conhecimento dele apenas. Você não quer e não autoriza que a informação seja usada, ou seus comentários sejam usados de forma pública. Neste caso você combina com o repórter que se trata de uma matéria “em off”.

Afora estas três situações, não se esqueça nunca, você está “on the record”, isto é, tudo que falar poderá ser usado e referido a você.

É preciso então, antes de começar a falar, combinar com o jornalista o status de reserva das suas declarações e comentários. A prévia combinação é necessária porque o jornalista pode não aceitar a condição que você impõe e não se comprometer a manter a reserva. Neste caso você terá então que dizer a ele que não quer falar agora sobre o assunto, ou não quer falar sobre o assunto em nenhum momento, o que também está dentro das regras.

Como se vê, não há necessidade de mentir para o jornalista. A regra prevê várias formas “legítimas” que asseguram ao candidato a possibilidade de falar sem ser citado, e até mesmo de não falar.

Além disso, informações em “background” e “em off” são muito importantes para os jornalistas. Permitem-lhes saber se estão indo no caminho certo de suas investigações ou se estão no rumo errado, se a matéria que estão fazendo tem consistência ou se não vai levar a nada, ou ainda, eles podem conseguir com você uma pista inicial para uma matéria importante, ou então orientações sobre quem procurar para ouvir sobre o assunto.

Portanto, os jornalistas aceitam a cláusula de reserva porque ela possui utilidade para eles. Em troca de informações relevantes, o candidato poderá ganhar espaços na cobertura já que, nesta relação candidato-jornalista, há sempre um “quid pro quo”, uma troca.

O que você não pode fazer é mentir. Nem “on the record”, nem em “background” ou “background profundo”, nem “em off”.

Não esqueça nunca que você é uma fonte. Como tal, você tem seus direitos e o jornalista o dever e compromisso de proteger suas fontes. Em contrapartida, a fonte não mente, porque ao mentir induz o jornalista a erro, ou tenta manipulá-lo em seu proveito.

Ora, se o jornalista foi induzido a erro ou viu-se manipulado em favor da sua fonte, sua reputação profissional fica abalada. Você está atacando sua reputação e sua carreira. Você tornou-se assim um inimigo dele, e ele saberá como “dar-lhe o troco”.

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