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Turismo inexpressivo - O ESTADO DE SP

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

05 de janeiro de 2020 | 03h00

O Brasil recebeu 6,62 milhões de visitantes estrangeiros em 2018, praticamente o mesmo número registrado pela Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas (UNWTO, na sigla em inglês) nos últimos três anos, o que indica uma estagnação da procura pelo País como destino turístico internacional. Para dar uma ideia do quão inexpressivo é este número tendo em vista as potencialidades turísticas de um país como o Brasil, apenas uma das atrações de Paris, o Museu do Louvre, foi visitada por 10,2 milhões de pessoas naquele mesmo ano, sendo 7,6 milhões estrangeiros. A França é o destino mais procurado por turistas estrangeiros (89 milhões de pessoas por ano, aproximadamente).

Na região, o Brasil recebeu menos turistas do que a Argentina (6,94 milhões de desembarques internacionais em 2018). Visitam o País menos estrangeiros do que os que procuram o Irã (7,29 milhões) e a Ucrânia (14,20 milhões). Os três países decerto têm grande riqueza cultural e uma vasta oferta de atrações turísticas, algumas delas históricas, como no caso do Irã, mas igualmente as tem o Brasil. As razões pelas quais aqui desembarcam menos turistas do que nos países citados, entre muitos outros, são bem conhecidas. Nebulosas são as ações do Ministério do Turismo para alterar esse quadro vergonhoso para um país com clima favorável o ano inteiro, variedade cultural riquíssima, belezas naturais incomparáveis e povo acolhedor como o brasileiro.

De acordo com o barômetro da UNWTO, hoje há muitos países experimentando um boom no turismo internacional – incluindo países da América Latina como o México, o Peru e a República Dominicana. Já o Brasil está estagnado. Uma das principais razões para isso, não resta dúvida, é a violência urbana. No final de semana passado, um casal de turistas suíços foi vítima de assalto no Rio de Janeiro. Eles saíam do Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste da capital fluminense, em direção a Paraty, onde pretendiam passar a noite de ano-novo. A polícia acredita que por orientação do GPS eles tenham ido parar na favela da Cidade Alta, próxima à rodovia Rio-Petrópolis, onde foram abordados por bandidos fortemente armados. O marido, um senhor de 75 anos que não fala português, foi baleado e está internado em estado grave no Hospital Estadual Getúlio Vargas. A mulher foi ferida pelos estilhaços.

Casos traumáticos como esse são tristemente corriqueiros em muitas capitais do País, notadamente nas Regiões Sudeste e Nordeste, as mais procuradas pelos turistas estrangeiros. Os que têm a sorte de sobreviver, dificilmente retornam ao Brasil. Além disso, a ampla repercussão dos crimes na imprensa internacional – há no Brasil correspondentes de praticamente todos os jornais relevantes do mundo – afasta outros potenciais visitantes.

O governo federal prometeu dobrar o número de turistas estrangeiros no Brasil até 2022. É uma meta bastante arrojada, para não dizer impossível de ser atingida. Recentemente, o Ministério do Turismo lançou a campanha “Brazil by Brasil”, espalhando publicidade em várias cidades da Europa e dos Estados Unidos. O presidente Jair Bolsonaro fala em transformar Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em uma espécie de “Cancún brasileira”, mas suas ações e palavras vão na direção oposta, ou seja, ele mais contribui para repelir turistas do que para atraí-los.

“Bolsonaro não é atraente”, disse Thomas Kohnstamm, autor do guia Lonely Planet Brasil, ao jornal The Washington Post. Ele se referiu a declarações do presidente fazendo pouco-caso da proteção do meio ambiente, desqualificando homossexuais – Jair Bolsonaro já disse “preferir ter um filho morto a um filho gay” –, entre outras barbaridades. Não à toa, Jair Bolsonaro revogou uma norma estabelecida pelo ex-presidente Michel Temer para aprimorar a acolhida no País de turistas idosos, portadores de necessidades especiais e da comunidade LGBT, um dos mais ricos filões turísticos atualmente.

Um país como o Brasil não pode ser um destino turístico marginal. Ajudará muito um olhar menos sectário para essa indústria bilionária, bem como a coordenação de esforços entre as três esferas de governo.

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