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Em discurso, Lula transforma cela especial da PF em solitária e omite patrimônio acumulado

Ricardo Brandt, O Estado de S.Paulo

09 de novembro de 2019 | 21h37
Atualizado 09 de novembro de 2019 | 22h47

Ao discursar em São Bernardo do Campo, no ABC, na manhã deste sábado, 9, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou como "solitária" a cela especial em que ficou detido por 580 dias, afirmou não ter acumulado patrimônio ao atacar o presidente Jair Bolsonaro e se vangloriou de ter sido diretor de escola e imputou crime a procuradores da Lava Jato. O Estado checou as afirmações de Lula e encontrou imprecisões no discurso.

"Fiquei em uma solitária e durante 580 dias eu me preparei espiritualmente. Eu me preparei para não ter ódio, eu me preparei para não ter sede de vingança, eu me preparei para não odiar os meus algozes", afirmou Lula, que discursou no mesmo local onde fez o discurso final antes da prisão, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.

Preso em 7 de abril de 2018, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, Lula ficou em uma cela especial, status de sala de Estado-Maior, na sede da Polícia Federal em Curitiba. O local era um antigo dormitório de policiais, sem grades, com banheiro próprio e armário, isolado da carceragem e com direito a TV, tablet, esteira para exercícios e visitas especiais durante toda semana.

No discuso, o ex-presidente também afirmou que como deputado e presidente não acumulou recursos, ao atacar o presidente Jair Bolsonaro. "Ele (presidente) tem que explicar aonde ele construiu um patrimônio de 17 casas. Eu fui deputado, eu fui presidente e se me virarem com a bunda para baixo não vai cair uma moeda do meu bolso. Eu quero saber como esses caras juntam dinheiro." 

Nas investigações da Lava Jato, no entanto, foram apreendidos valores em conta, bens e investimentos. Em 2018, quando tentou disputar a eleição como presidente, o petista declarou à Justiça Eleitoral R$ 8 milhões de patrimônio, a maior parte em um fundo previdenciário. O patrimônio está congelado por ordem judicial para futura reparação dos danos ao Erário, caso as sentenças contra ele sejam mantidas até última instância. Lula é condenado em dois processos em Curitiba, o do triplex do Guarujá e o do sítio de Atibaia (SP) e é ainda acusado em outros.

Lula afirmou que não tinha ódio nem vontade de vingança, mas atacou delegados da Lava Jato, procuradores da força-tarefa, em especial o coordenador do grupo, Deltan Dallagnol, o ex-juiz Sérgio Moro e o presidente Bolsonaro. Ao atacar a Lava Jato e seu coordenador, Lula afirmou que "Dallagnol não representa o Ministério Público" e que ele "montou uma quadrilha com a força-tarefa da Lava Jato. "Inclusive para roubar dinheiro da Petrobrás e das empreiteiras."

Não há acusações ou investigações contra Dallagnol ou membros da força-tarefa sobre crimes. O coordenador é alvo de procedimentos disciplinares no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), sobre comentários feitos por ele contra políticos e que são da esfera administrativa.  

Ao lembrar sua história política e sindical, Lula repetiu afirmação feita em 2018 antes de ser preso, em discurso na sede do sindicato dos metalúrgicos, de que já havia sido diretor de escola. "Aqui nesse prédio para quem não sabe eu fui diretor de uma escola de Madureza que tinha 1.900 alunos. Você pensa que eu sou analfabeto? Eu fui diretor da escola desse sindicato aqui." Os cursos de madureza eram similares ao curso supletivo. Na época, Lula era diretor do sindicato, que oferecia o curso.

Com a palavra, o ex-presidente Lula 

Por meio de sua assessoria de imprensa, Lula afirmou que foi sim diretor do curso de madureza do sindicato. Negou que tivesse tablet na cela, que, pelo isolamento, era uma solitária. "O que define uma solitária é o isolamento do convívio com outras pessoas."

Afirmou ainda que o patrimônio de Lula não foi acumulado durante sua carreira política, mas depois, fazendo palestras. É que o ex-presidente se referiu ao acordo para uma criação de fundacao pela Lava Jato com dinheiro tirado da Petrobras, acordo que foi declarado ilegal pelo Supremo. 

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