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Palocci conta como PT loteou governo para gerar recursos ilícitos

BRASÍLIA — Em um vídeo inédito de sua delação premiada assinada com a Polícia Federal e homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, o ex-ministro Antonio Palocci apresenta detalhes de como o governo do ex-presidente Lula teria loteado os órgãos da administração pública para arrecadar recursos aos partidos da base do governo — e às vezes até mesmo para a oposição. Segundo Palocci, somente alguns órgãos considerados “sensíveis” ficaram de fora do suposto esquema ilícito, como o Banco Central.

 

O relato faz parte de um dos anexos da delação do ex-ministro, que aborda uma suposta "organização criminosa" relacionada ao PT. O partido nega as acusações e afirma, em nota, que a farsa foi denunciada nos autos e comprovada pelas mensagens vazadas dos procuradores no Telegram.

 

Ex-ministro da Fazenda no governo Lula e homem da estrita confiança do ex-presidente, fundador do PT em Ribeirão Preto em 1980, Palocci começa o seu depoimento relatando que o partido cometia ilícitos pontuais, mas que os desvios se tornaram "sistemáticos" após a chegada de Lula ao Palácio do Planalto, com o objetivo de consolidar a hegemonia política do PT.

 

— Os ilícitos da organização do PT vêm de antes da eleição, mas eles se tornam sistemáticos, mais determinados e organizados a partir da posse do ex-presidente Lula. Na verdade, partem da visão de que, uma vez o PT tendo conquistado o governo federal, deveria montar máquinas políticas e financeiras capazes de enfrentar as outras forças políticas e estabelecer uma hegemonia do PT e de seus aliados na política brasileira — afirmou Palocci.

 

O ex-ministro afirma que essa forma de atuação acabou sendo responsável por provocar o escândalo do mensalão, porque o PT montou um esquema de arrecadação de recursos para financiar partidos aliados e fechar apoio nas eleições de 2004. Palocci cita que a estatal Petrobras foi vista desde o início como uma forma de fazer caixa para os partidos políticos, devido à independência de cada uma de suas diretorias.

 

— Segunda coisa que vale a pena ressaltar: não eram todos os órgãos que tinham o mesmo modelo de atuação. Por exemplo, a Petrobras foi desde o início montada para fazer caixa, a diretoria da Petrobras. Não dá para dizer a mesma coisa do Banco do Brasil ou de outras estatais, da Caixa e de outras. Isso veio ao longo do tempo, a forma foi muito mais atenuada. Por que isso? Primeiro, porque se procurou os locais que poderiam gerar valores mais significativos. Segundo, porque existiam organismos mais resistentes. Então o Banco do Brasil era um organismo resistente ao ilícito, dessa forma era mais difícil organizar um processo de contratações, de ilegalidades dentro do Banco do Brasil. A Petrobras era uma máquina enorme, e os departamentos eram muito independentes — explicou Palocci.

 

Ele cita que, nesse sentido, o PT começou a usar a diretoria de Serviços da Petrobras para arrecadar recursos --essa diretoria foi ocupada por Renato Duque. Palocci diz ainda que o PMDB indicou Jorge Zelada para ocupar a diretoria Internacional da Petrobras também com esse objetivo.

Questionado pelo delegado da PF que conduz o depoimento sobre quais outros órgãos foram loteados para arrecadação de recursos, Palocci responde que houve poucas exceções.

— Praticamente todos, com exceção de alguns órgãos muito sensíveis que eu mesmo pedi para o presidente Lula deixar de fora desse jogo. Por exemplo, Banco Central nunca participou diretamente desse jogo de cartas. Valdemar Costa Neto (ex-deputado do PR, atual PL, e condenado no mensalão), por exemplo, ele pedia sistematicamente a minha demissão e a do (Henrique) Meirelles porque ele queria a diretoria de fiscalização do Banco Central, que é quem fiscaliza os bancos do país. Obviamente, para fazer dali um centro de arrecadação do seu partido. Nós não concordamos com isso, falamos pro presidente Lula que roubar ali era um perigo, desestabilizava a moeda brasileira e não apenas uma atividade setorial, e ele acabou concordando — relatou Palocci.

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