Brasil terá sistema de pagamentos instantâneos, 24 horas por dia, em 2020
Modelo distinto do chinês
O mercado estima que o funcionamento do sistema em escala em todo o país pode gerar redução de um terço na circulação de cédulas e moedas. Luis Santacreu, analista de bancos da consultoria Austin Rating, considera isso factível:
— Com a entrada de vários players nesse mercado, a chance de disseminação do serviço é grande, e reduzir o uso de moeda em um terço é uma estimativa razoável.
O BC adianta que o sistema deverá estar em pleno funcionamento em novembro de 2020. Até lá, a autoridade monetária vai ouvir o mercado para definir os padrões do sistema, a exemplo do tipo de QR code a ser utilizado pelo cliente na hora de transferir uma quantia. Na primeira semana de setembro, o Forum PI (Pagamentos Instantâneos), formado por técnicos do BC, do mercado financeiro e do setor de tecnologia de informação, divulgou a terceira versão do relatório de especificações técnicas para esse sistema.
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Diferentemente do que ocorre na China, que massificou os pagamentos instantâneos através de dois gigantes privados, no Brasil a operação ficará centralizada no BC. A autoridade monetária será um agente neutro — o que garante que não só atores tradicionais desse mercado, como os bancos, mas também empresas como fintechs e cooperativas de crédito se associem à infraestrutura do BC para oferecer seus serviços. O objetivo é gerar competição: leva a melhor quem tiver o custo-benefício mais atraente.
O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello, explica que o novo sistema responde às mudanças que a tecnologia tem imposto às relações financeiras em todo o mundo e vai reduzir o uso do dinheiro em espécie:
— O novo ecossistema de pagamentos instantâneos será capaz de suportar a revolução digital em curso e preencher lacunas deixadas pelos instrumentos de pagamento existentes, além de contribuir para a inclusão financeira e reduzir o uso de papel-moeda — diz Mello.
Grandes bancos já apostam em sistemas próprios de pagamentos instantâneos. Em agosto, o Itaú anunciou o lançamento do Iti, conta de pagamentos digitais que funcionará até para quem não é cliente do banco. O aplicativo ainda está em desenvolvimento, mas bastará cadastrar a biometria para enviar dinheiro para a plataforma.
Maior controle
Para Livia Chanes, diretora do Iti no Itaú, dar escala a sistemas como esse, com a participação de diversas instituições financeiras, reduzirá o custo das transações:
— Os custos de transação caem por terra. Não só os de pagamentos de tarifas, mas também de toda a gestão da “numeralha” do papel-moeda.
Miguel Ribeiro, diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), lembra que os pagamentos instantâneos também aumentam o controle sobre as operações financeiras.
— Isso traz um controle maior sobre o dinheiro em circulação, que até então era sacado e ficava no bolso. Tudo passa a estar no sistema financeiro, com rastro e identificação, e as relações financeiras se formalizam mais — afirma.