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Start-up vence concurso da Nasa e vai oferecer ‘casa marciana’ no Airbnb

 

casa para lua

RIO - Os planos da agência espacial americana para a exploração de Marte incluem o envio dos primeiros astronautas na década de 2030, mas o sucesso dessa empreitada exige o desenvolvimento de novas tecnologias. Entre elas estão foguetes mais potentes, propulsão a energia solar, espaçonaves capazes de suportar a vida por longos períodos e, por que não, técnicas de construção. A viagem ao planeta vermelho é longa e demorada, por isso é essencial a preparação de alguma infraestrutura em solo marciano antes do primeiro desembarque.

 

— É Marte, não a Lua. Na Lua você chega em dois dias, para Marte são seis meses para ir e seis meses para voltar — explica o arquiteto David Mellot, diretor executivo da start-up AI Space Factory, que acaba de vencer um concurso promovido pela Nasa para selecionar o melhor projeto de construção de habitats em Marte. — Para ajudar a sobrevivência dos astronautas, é preciso construir alguma infraestrutura antes da chegada, como casas para eles se abrigarem e um campo de pouso.

 

O que parece trivial exige soluções que ainda não existem. Construir edificações sem o trabalho humano ainda é um desafio, mesmo na Terra. Na competição, a Nasa pediu projetos para a construção de uma casa usando impressão 3D, com materiais disponíveis no planeta vermelho. A proposta apresentada pela Space Factory usa uma mistura de fibra de basalto, facilmente extraída de rochas marcianas, e um bioplástico renovável, processado a partir de plantas que podem ser cultivadas em Marte.

 

— É inviável enviar materiais de construção ou peças pré-moldadas para Marte em uma espaçonave. O custo seria proibitivo — diz Mellot. — Em vez disso, a Nasa propõe enviar dois robôs, um para coletar materiais e outro para construir.

Prêmio de US$ 500 mil

Na final do concurso 3D Printed Habitat Challenge, a start-up novaiorquina bateu uma equipe formada por professores e estudantes da Universidade Estadual da Pensilvânia e levou um prêmio de US$ 500 mil, além da oportunidade de continuar desenvolvendo seu projeto em parceria com a Nasa. Os dois times tiveram 30 horas, dividedas ao longo de três dias, para construir a estrutura exterior da habitação. O projeto Marsha, da Space Factory, foi considerado o vencedor após a análise de quatro quesitos: mistura do material, vazamentos, durabilidade e resistência.

Antes de chegar a Marte, os equipamentos serão testados em laboratório na Terra e na Lua. Segundo o cronograma de Mellot, este ano devem começar os primeiros testes com o material usado para a impressão. A mistura de basalto e bioplástico precisa ter suas características físicas avaliadas em situação de frio extremo, no vácuo e com gravidade zero. A maquinaria deve ser testada em ambientes hostis semelhantes à superfície de Marte, como os desertos terrestres. Com os testes em Terra finalizados, o equipamento deverá ser enviado para levantar construções na Lua, sob a supervisão de astronautas. Só depois os robôs construtores serão enviados para Marte.

Marte: robôs construtores serão enviados ao planeta. Foto: Reuters
Marte: robôs construtores serão enviados ao planeta. Foto: Reuters

Enquanto isso, a start-up pretende aplicar a tecnologia desenvolvida para a exploração espacial na construção sustentável de casas na Terra. O módulo Marsha, construído no desafio da Nasa, foi desmontado para que as partes sejam reutilizadas na construção do Tera, uma habitação de 75 metros quadrados e três andares, que será erguida em Nova York nos próximos meses.

— O Tera vai exibir nossa tecnologia. Por alguns meses, queremos receber visitantes interessados em conhecer essa tecnologia espacial de construção. No início do ano que vem, quem vier para Nova York poderá se hospedar no Tera usando o Airbnb — promete o arquiteto.

Projeto será erguido em outras cidades

A ideia é que a construção não seja permanente, mas que o Tera seja desmontado e reciclado para ser erguido em outras cidades. Com duas décadas de experiência em projetos de arranha-céus — entre eles o Ping An Finance Center em Shenzhen, na China, o quarto maior edifício do mundo —, Mellot defende que a indústria da construção civil seja repensada para modelos mais sustentáveis. A produção de cimento, presente no concreto, responde por 8% das emissões globais de dióxido de carbono, gás responsável pelo aquecimento global.

— Não faz mais sentido construções para durar cem, 200 anos. Hoje, quando um casal tem filhos e deseja uma casa maior, precisa se mudar. Com a impressão 3D, poderia apenas adaptar — defende Mellot. — E se precisar se mudar, pode desmontar a casa e aproveitar o material para construir em outro lugar.

No início, os custos serão mais altos que os do concreto, mas, caso a tecnologia seja adotada em escala, os preços tendem a cair. Por outro lado, as construções serão mais rápidas e exigirão menos trabalho humano. E podem aproveitar produtos agrícolas locais como matéria-prima. No projeto Marsha, a start-up produziu o bioplástico a partir do milho, mas no Brasil, por exemplo, o polímero pode ser obtido da cana-de-açúcar.

— Acredito que todos têm direito a uma vida confortável, mas é preciso encontrar soluções sustentáveis — diz Mellot. — A tecnologia espacial pode ser uma das soluções para esse problema. o globo

 

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