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Novata na Câmara, Tabata Amaral rejeita polarização entre esquerda e direita

BRASÍLIA — Para bolsonaristas radicais, Tabata Amaral (PDT-SP) é uma “comunista financiada por George Soros”, o bilionário húngaro que “comanda a pauta de globalistas”. Para petistas mais extremados, é uma “vendida a Sergio Moro e João Doria”, por ter mantido um diálogo civilizado com o ministro da Justiça e o governador de São Paulo. É assim que a deputada de 25 anos, principal aposta do PDT para a prefeitura de São Paulo no ano que vem, resume a polarização em torno de sua atuação legislativa. Para Tabata, favorável a uma reforma da Previdência — não necessariamente a que foi proposta pelo governo —, a tentativa dos polos de enquadrá-la numa forma ideológica é um emblema do clima político conflagrado do país.

 

Eleita com 264 mil votos, Tabata se tornou influenciadora nas redes sociais durante a campanha do ano passado. Seu alcance foi amplificado após a deputada questionar diretamente o então ministro da Educação, Vélez Rodrigues, no fim de março, sobre seus planos e metas para a pasta. Durante a sabatina com o novo ministro, Abraham Weintraub, na semana passada, a Câmara ficou em silêncio para ouvir suas perguntas.

 

Tabata Amaral chamou atenção ao questionar diretamente o então ministro da Educação, Vélez Rodrigues, sobre seus planos e metas para a pasta Foto: Jorge William / Agência O Globo
Tabata Amaral chamou atenção ao questionar diretamente o então ministro da Educação, Vélez Rodrigues, sobre seus planos e metas para a pasta Foto: Jorge William / Agência O Globo

Filha de uma família humilde (a mãe era doméstica; e o pai, cobrador de ônibus) da periferia de São Paulo, Tabata acumulou bolsas de estudo ao longo da vida para frequentar colégios particulares. Suas notas, o estímulo de professores e sua trajetória de vida a catapultaram para a admissão em Harvard, também com bolsa, de onde saiu para trabalhar no mercado corporativo. Tinha um bom cargo e futuro garantido na Ambev, cujos donos ajudaram a financiar sua educação. Mas não quis — preferiu entrar na política. Quem a conhece desde seu primeiro ano na universidade americana diz que Tabata nunca escondeu dos colegas e professores o sonho que nutre de um dia ser presidente do Brasil.

Quase afogada

Apesar de seu partido ser crítico à reforma da Previdência, Tabata defende mudanças no atual sistema. Ela, no entanto, não abraça por completo a proposta do governo de Jair Bolsonaro.

— Há um caminho um pouco mais longo para poder apoiar. A Previdência deixou de ser sustentável. A demografia está mudando. Temos de fazer uma reforma. Apresentei uma emenda, por exemplo, contra o aumento do tempo de contribuição mínimo de 15 anos para 20 anos para as mulheres — diz ela, que também critica os supersalários de servidores.

O PDT ainda não decidiu como se posicionará sobre a reforma. Tabata não garante que seguirá a sigla — analisará os pontos sensíveis e poderá votar a favor mesmo que a sigla seja contra.

Um dos melhores amigos de Tabata é Renan Ferreirinha, também ex-aluno de Harvard, onde estudou Ciências Políticas e Economia. Ambos foram parceiros na criação do movimento de renovação política Acredito. Como ela, Ferreirinha foi eleito e hoje é deputado estadual pelo PSB do Rio.

Eles se conheceram em 2011, nos Estados Unidos, mas os laços de amizade foram aprofundados após um episódio que por pouco não terminou em tragédia. Em férias na Costa Rica, quase morreram afogados numa praia. Num fim de tarde, quando estavam com mais dois amigos na água, o mar virou. Tabata e Ferreirinha foram sugados para fora da área de arrebentação, dividindo uma prancha de bodyboard, enquanto as ondas aumentavam.

— Ficamos uma hora à deriva. Escureceu, ficou um breu danado, e em um momento nós perdemos a prancha. Tentamos voltar para a praia, mas tomamos um caixote muito forte. Nadamos contra o mar, nos afastamos da terra. Não sabíamos o que era terra, mar ou céu, tudo era escuro. Comecei a gritar help, até que um surfista nos resgatou — diz o amigo.

A bolsa dos dois em Harvard só foi concedida porque a Fundação Lemann, em convênio com a universidade, banca os estudos de alunos brasileiros de baixa renda. Denis Mizne, diretor-executivo da fundação, diz que Tabata sempre foi muito “carismática” e esteve “entre os melhores alunos de Harvard”:

— A gente se aproximou quando ela foi fazer o estágio de educação em Sobral, no Ceará. Fomos parceiros do projeto e sempre acompanhamos o trabalho dela lá. Quando ela se formou, acompanhamos de perto.

Centro-esquerda

A deputada se define como uma “progressista de centro-esquerda” ou uma “ativista” ligada à educação. Em seu primeiro mandato, planeja concentrar sua atuação em pautas específicas, como a defesa do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), cuja validade expira no ano que vem, e a fiscalização das ações do Ministério da Educação. Para negociar as propostas de seu interesse, diz não ver problema em conversar com o ministro da Justiça, criticado pela esquerda, nem com o governador de seu estado, que é de partido adversário ao seu.

Em seus primeiros quatro meses na Câmara, Tabata diz sofrer “um assédio muito grande” e reclama do ambiente “machista”:

— Já fui questionada se era casada com alguém importante. Se esse era o motivo pelo qual estava ali.

Carlos Lupi, presidente do PDT, vê na deputada o nome ideal para disputar a prefeitura de São Paulo — plano que Tabata nega.

— Eu defendo a candidatura dela porque é uma maneira de o partido ter uma cara nova na cidade mais populosa do país. Ela ainda está insegura. Não está muito à vontade com essa hipótese. Mas é uma coisa que nós vamos tratar mais à frente — diz Lupi. o globo

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