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Adequação ao cargo é vital para presidente recuperar confiança

Mauro Paulino e Alessandro Janoni / FOLHA DE SP
 

A popularidade do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), segue o roteiro dos ocupantes do cargo ao fim dos simbólicos cem primeiros dias de mandato.

Desde a redemocratização, apenas Itamar Franco, em dezembro de 1992, após o impeachment de Fernando Collor, conseguiu superar a expectativa —muito baixa— que existia em relação ao seu governo.

Todos os outros (não há dado equivalente apenas para o segundo mandato de Lula) apresentam diferenças importantes entre a euforia pós-eleitoral e a avaliação positiva em pouco mais de três meses de gestão.

E no índice de popularidade, calculado pelo Datafolha, o pesselista é o que tem pior desempenho entre os presidentes em um primeiro mandato. Segundo essa métrica, que vai de 0 a 200, Bolsonaro alcança 103 pontos contra 131 de Collor, 151 de Itamar Franco, 142 de Fernando Henrique Cardoso, 162 de Lula e 174 de Dilma Rousseff. Todos em período equivalente.

O atual presidente bate apenas os baixos escores de FHC e Dilma nos cem dias de seus segundos mandatos (74 e 69 pontos, respectivamente).

Pelo histórico, esse período, no geral, marca o fim da “lua de mel” entre parte da opinião pública e os candidatos ungidos pelas urnas. É o tempo em que eleitores passam por uma espécie de desintoxicação de estratégias e mensagens da campanha e se deparam com a política real, por meio de ações concretas do novo governo.

E no caso de Bolsonaro, não faltaram, nos seus cem primeiros dias de mandato, episódios de grande repercussão nas diferentes esferas de composição da opinião púbica —desde aspectos ideológicoscrises políticaspolêmicas na economia e confusão na educação até o questionamento de valores e comportamentos.

Numa primeira leitura, a avaliação reproduz tendências cristalizadas no período eleitoral. É o caso, por exemplo, dos índices de impopularidade do presidente entre as mulheres, especialmente as mais escolarizadas, e entre os moradores do Nordeste, principalmente os mais pobres, onde a taxa dos que consideram o pesselista um presidente ruim ou péssimo supera a média em pelo menos 10 pontos percentuais.

Da mesma forma, constitui herança eleitoral o apoio expressivo dos homens mais escolarizados e mais ricos, segmento em que a aprovação a Bolsonaro alcança percentuais próximos a 50%.

No entanto, chama a atenção o dado de que quase metade de seus eleitores não o considera um presidente ótimo ou bom.

Para entender o fenômeno, o Datafolha aplicou uma análise multivariada sobre as principais perguntas do questionário e por meio de um modelo estatístico de decisão chegou aos aspectos de maior peso sobre o resultado obtido por Bolsonaro em sua primeira avaliação junto aos brasileiros.

A variável que mais explica o quadro não é demográfica, socioeconômica ou geográfica. Tampouco tem correlação direta com a economia, política ou educação. Refere-se, antes de qualquer coisa, à imagem pessoal que o pesselista transmitiu em pouco mais de três meses de governo.

E não se trata de qualidades ou defeitos majoritariamente associados à figura do ex-deputado, como sinceridade ou autoritarismo. O item de maior peso, na verdade, reflete o quanto Bolsonaro se mostrou preparado ou não para o cargo nesse espaço de tempo.

Entrevistados que percebem o pesselista despreparado, indeciso e que concordam com a afirmação de que ele “em nenhuma situação, se comporta como um presidente da República” compõem o nicho que mais o reprova. É um estrato que alcança quase 20% da população.

No extremo oposto, o subconjunto que mais o aprova, também com percentual próximo a 20%, reúne parcela de seus eleitores que, além de julgá-lo preparado para o cargo (e, diferentemente da maioria dos brasileiros, o classificam como defensor dos pobres), baseiam sua opinião na percepção de que Bolsonaro tem feito pelo país ao menos aquilo que esperavam dele.

Essa expectativa —atendida ou não— é a variável que mais divide o segmento dos que votaram no presidente em 2018 e explica o fato de praticamente metade deles não aprovar sua atuação. Nesse estrato, 42% sentem-se frustrados com o que o pesselista apresentou até aqui.

Para conseguir maior apoio da opinião pública e consolidar suas propostas de governo, Bolsonaro deve necessariamente adequar-se ao cargo e mostrar serviço —metade dos brasileiros acha que o pesselista trabalha pouco e é antiquado, imagem muito pior do que a de seus antecessores petistas em período similar.

Paulino é diretor-geral do Datafolha; Janoni é diretor de pesquisas do instituto

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