A equação de Bolsonaro - ISTOÉ
O grande inchaço da máquina pública, desde a redemocratização, ganhou forma entre os governos Fernando Collor e Itamar Franco. Em 1992, sob a administração do autoproclamado caçador de marajás, o Brasil possuía 14 ministérios. Pulou para 28 pastas — ou seja, dobrou — dois anos depois, na coalizão montada para dar sustentação ao vice do presidente deposto.
Foi quando o Ministério da Economia acabou desmembrado no tripé Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio. E ganhou vida o ministério do Meio Ambiente. De lá para cá, a Esplanada dos Ministérios só aumentou, embora não com o ímpeto daquele intervalo de apenas dois anos. Vinte e seis anos depois, o presidente eleito Jair Bolsonaro trilha o caminho inverso. Para a hercúlea tarefa de passar a tesoura na estrutura ministerial, sem se indispor com os aliados, o capitão reformado montou uma equação matemática simples e de lógica elementar.
Ao reduzir para 15 o número de pastas, dividiu-as em três grupos de cinco e criou sua própria regra de três: está concedendo cinco pastas para militares, como o General Augusto Heleno para a Defesa, cinco pastas para colaboradores da campanha, como Paulo Guedes, da Economia, e outras cinco para integrantes dos partidos aliados, como Onyx Lorenzoni, do DEM, escolhido para a Casa Civil. A vantagem dessa composição é que lhe sobra margem de manobra para encaixar mais apoiadores de outras legendas, como o DEM, caso encontre dificuldades mais adiante em seu governo. Nesse caso, ele pode sacrificar algum integrante da ala militar ou do grupo dos colaboradores de campanha, que lhe são fiéis, para agregar ao grupo dos 15 algum neoaliado com o propósito de alcançar a governabilidade.
Bolsonaro, o homem e seu tempo - Carlos José Marques
Jair Messias Bolsonaro, o 38º presidente do Brasil, é o homem que captou o espírito do seu tempo, aquilo que os cientistas passaram a resumir na expressão alemã “Zeitgeist” para refletir as manifestações intelectuais, políticas e culturais de uma determinada época e geração. Bolsonaro parece ter entendido, como poucos candidatos, o clima de expectativas e necessidades dos eleitores que foram às urnas. Venceu contrariando todas as previsões, no bojo de um partido nanico, sem campanha, sem tempo de TV, sem alianças partidárias representativas, com parcos recursos e uma massa de opositores que se mantém numerosa. Há pouco mais de um ano, quando iniciou a caminhada, ninguém enxergaria qualquer chance nessa candidatura.
Com Moro, Bolsonaro tranca o PT na sua fábula
A campanha eleitoral de 2018 impôs ao PT o desafio de superar sua lulodependência. O partido deveria guindar Lula à condição de totem e iniciar sessões de fisioterapia política para aprender a andar sem a muleta presidiária. Entretanto, num instante em que uma ala do petismo cobrava internamente a abertura de novos caminhos, Jair Bolsonaro trancou os arquirrivais na velha fábula da perseguição política. Fez isso ao tornar Sergio Moro ministro da Justiça.
“…Sergio Moro revelou definitivamente sua parcialidade como juiz e suas verdadeiras opções políticas. Sua máscara caiu”, escreveu o PT em nota oficial. “Moro foi um dos mais destacados agentes do processo político e eleitoral. Desde o começo da Operação Lava Jato agiu não para combater a corrupção, mas para destruir a esquerda, o Partido dos Trabalhadores e o governo que dirigia o país.” Indagado sobre a reação, Bolsonaro divertiu-se: se eles estão reclamando, é sinal de que acertamos, declarou.
Plano Real contra a corrupção
O PT vai tentar atacar a nomeação do juiz Sergio Moro para o ministério da Justiça, com a alegação de ser a prova da tendência contrária a Lula no julgamento. Mas quando ele foi condenado, nem se sabia se Bolsonaro seria candidato. E naquele momento, Lula era o mais provável presidente.
É absurdo achar que Moro, desde o início, tivesse a ideia de carreira política. É muito bom que ele tenha aceitado o cargo num governo que tem uma agenda anticorrupção, e que está dando a ele todos os instrumentos para montar um esquema anticorrupção e anticrime organizado, muito necessário porque o país chegou a um limite de corrupção inaceitável.
Moro disse que o Brasil precisava de um Plano Real contra a corrupção e, aparentemente, o presidente eleito está dando a ele condições de montar grande esquema para estimular as investigações e a Polícia Federal. As medidas contra a corrupção apresentadas pela Transparência Internacional, FGV e procuradores de Curitiba têm mais chances de aprovação porque terão um ministro poderoso empenhado em aprova-las. Foi uma grande decisão de ambos.
Antes de Bolsonaro, PT também buscou intimidar imprensa com corte de verba
Antes de Jair Bolsonaro, o PT também havia tentado intimidar a imprensa com a ameaça de corte de verbas publicitárias federais.
Na última segunda (29), em entrevista ao Jornal Nacional (Globo), Bolsonaro atacou a Folha: “Não quero que [a Folha] acabe. Mas, no que depender de mim, imprensa que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos do governo federal”.
Embora de forma menos explícita —e não verbalizada pela autoridade máxima do governo—, o PT já empregou táticas similares contra veículos com reportagens críticas a seus governos e em benefício de outros mais alinhados ao partido.
Terceiro turno, coisa nenhuma!
José Nêumanne / O ESTADO DE SP
01 Novembro 2018 | 06h59
Nenhum cidadão minimamente informado sobre a postura costumeira das oposições de esquerda a quaisquer governos que vençam disputas eleitorais no Brasil não está autorizado a nutrir esperanças de que tais grupos, alijados do poder pela soberana decisão da cidadania, entendam o momento delicado pelo qual passa a Nação e decidam pelo menos não perturbar as eventuais iniciativas dos vencedores. Este ano, mesmo não sendo contestado, o resultado eleitoral não apaziguou os ânimos beligerantes nem inspirou os derrotados a adotarem serenidade e colaboração. Isso é lamentável! Este é meu comentário no Estadão Notícias, no Portal do Estadão desde 6 horas da quinta-feira 1 de outubro de 2018.