Renan agora quer presidir Comissão de Justiça
Prestes a deixar o trono no Senado, Renan Calheiros busca uma posição que lhe permita preservar alguma nobreza. Em privado, o senador revela o desejo de pleitear a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa. Nesse posto, Renan, réu numa ação criminal e protagonista em 11 inquéritos, poderia continuar azucrinando procuradores e juízes com o projeto sobre abuso de autoridade.
De resto, Renan comandaria a sabatina de eventuais novos ministros do Supremo Tribunal Federal e do próximo procurador-geral da República, a ser escolhido em setembro de 2017, quando termina o mandato de Rodrigo Janot, seu desafeto. Na noite desta quarta-feira (14), Renan despediu-se dos colegas ao final da última sessão deliberativa do Senado antes do recesso com um discurso em que espinafrou Janot. Ironicamente, atirou utilizando munição fornecida pelo próprio alvo.
Renan fez questão de trocar a poltrona de presidente pela tribuna. Leu para os colegas trechos de um despacho do ministro Teori Zavaschi, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (assista no video abaixo). Teori devolveu a Janot denúncia que a Procuradoria-Geral da República ajuizara contra Renan havia dois dias. O ministro pede que sejam sanadas deficiências da acusação.
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Teori questiona em seu despacho, por exemplo, a ausência de documentos sobre diligências da Polícia Federal que a própria Procuradoria havia requisitado. A denúncia foi formalizada antes da conclusão das investigações, ainda em curso. Janot acusa Renan e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pede ao Supremo que decrete a perda das funções públicas dos acusados.
Sapateando sobre os reparos de Teori à denúncia de Janot, Renan fez pose de vítima. Disse que sua vida foi ''devassada por nove anos''. E reiterou a sua tese de que o Ministério Público dedica-se a fazer política, perdendo as condições de exercer o papel de fiscal da lei.
“….Cada decisão que eles pedem contra senador, cada constrangimento, cada busca e apreensão que fazem, com a cobertura da imprensa, isso precisa ser melhor observado”, discursou Renan. “De fato em fato, de abuso em abuso, como este, eles estão construindo uma névoa no país que não fará bem à nossa democracia.”
Nesta quinta-feira, Renan preside a última sessão conjunta do Congresso em 2016. Na sequência, haverá sessão não-deliberativa do Senado. E os congressistas sairão em férias. As fornalhas do Legislativo só serão religadas em fevereiro, quando os senadores terão de eleger o sucessor de Renan. O favorito é Eunício Oliveira (PMDB-CE), atual líder do PMDB. A liderança é outra função cobiçada por Renan. JOSIAS DE SOUZA