Carros, viagens e transações suspeitas: Careca do INSS fala pela primeira vez ao público na CPI
Por Eduardo Gonçalves — Brasília / O GLOBO
O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o "Careca do INSS", tem um depoimento marcado nesta quinta-feira na CPI que investiga um esquema bilionário de cobranças ilegais a aposentados e pensionistas. Preso no dia 12 de setembro, ele é apontado como um dos principais operadores das fraudes e desvios de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A oitiva dele é uma das mais aguardadas da CPI, que tentou trazê-lo antes sem sucesso. Esta será a primeira vez que ele terá a oportunidade de falar ao público. Na última segunda-feira, o empresário prestou depoimento à Polícia Federal e negou ter cometido irregularidades no INSS.
De uma cela da superintendência da PF em Brasília, Antunes chegará ao Senado respaldado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o autoriza a ficar em silêncio.
"Em caso de efetiva apresentação para depoimento o investigado deverá ter todos os seus direitos constitucionais resguardados, notadamente aqueles relativos ao princípio do 'nemo tenetur de detegere' (ninguém é obrigado a se acusar), garantindo-se o direito ao silêncio e à não auto incriminação", diz decisão assinada pelo ministro do Supremo André Mendonça, obtida pelo GLOBO.
A defesa dele disse que “em princípio” ele irá comparecer.
Os parlamentares devem questionar Antunes sobre sua "influência política" e "capacidade financeira e intimidatória", argumentos utilizados pela Polícia Federal para justificar a prisão dele no âmbito da Operação Sem Desconto. Apesar de nunca ter tido cargo no INSS, ele é apontado como um lobista que conseguia vantagens junto a servidores do órgão federal e atuava em nome de entidades investigadas, além da suspeita de lavar dinheiro por meio das dezenas de empresas que possui.
Um documento sigiloso da PF listou carros "apreendidos no âmbito das investigações" que estariam "relacionados" a Antunes. Entre eles há 11 veículos, sendo quatro Porsches e quatro BMWs; além de três motocicletas.
Outra planilha aponta 40 registros de entrada e saída do país, sobretudo em direção à Europa e Estados Unidos num período entre 2023 e 2024 , o que corresponde a 20 viagens internacionais. A informação foi revelada pelo portal Metrópoles e confirmada pelo GLOBO.
Para justificar a necessidade da prisão de Antunes, os investigadores afirmaram ter identificado que ele comprou uma casa nos Estados Unidos e viajaria para o exterior "em data próxima" à deflagração da Operação Sem Desconto. O movimento foi entendido pela PF como uma forma de ele se "evadir do país, sinalizando risco concreta de fuga".
Procurada, a defesa de Antunes disse que só iria se manifestar nos autos.
Conforme o inquérito, pessoas e empresas ligadas ao careca do INSS receberam um total de R$ 25,5 milhões de associações e intermediários envolvidos no suposto esquema — entre elas há uma transação suspeita de R$ 100 mil para um secretário municipal de uma cidade do interior do Maranhão. O empresário também teria remetido R$ 9,3 milhões para pessoas vinculadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024.
Antunes também deve ser perguntado sobre uma empresa offshore com o seu nome que ele abriu nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal. "A coincidência temporal com o esquema da “farra do INSS”, o uso de uma empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas e as transações de alto valor reforçam a suspeita de que essas operações foram realizadas com o intuito de ocultar a origem ilícita dos recursos", concluiu a PF.