Na CPI do INSS, Lupi nega irregularidades na Previdência: 'Nunca fiz desvios na minha vida'
Por Gabriel Sabóia e Geralda Doca — Brasilia / O GLOBO
Em depoimento à CPI do INSS, o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi (PDT) negou ter participado de qualquer irregularidade no órgão ou acobertado os desvios detectados nos descontos de aposentados e pensionistas. Fora da pasta desde maio, Lupi reforçou que espera ver os autores das fraudes presos.
O presidente do PDT é um dos principais alvos da CPI porque estava à frente do ministério quando o escândalo foi revelado. Foi sob sua gestão, nos anos de 2023 e 2024, que os descontos associativos se multiplicaram.
— Eu não tenho qualquer condenação do Poder Judiciário. Desvios, eu nunca fiz na minha vida. Não acobertei nada ou fui conivente. Espero que todos os servidores do INSS que foram coniventes com as fraudes sejam presos. Estou neste colegiado como colaborador, fui convidado e não convocado — disse.
O depoimento dele é visto com temor por parte do governo. Como O GLOBO mostrou, ele se negou a participar de um treinamento para a sessão. A pessoas próximas, ele afirmou que via com tranquilidade sua participação na comissão. O perfil espontâneo do ex-ministro é considerado um fator imprevisível para seu desempenho. Outros membros do primeiro escalão já vêm sendo preparados internamente.
Questionado por parlamentares, Lupi não conhecer Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”. Ele é apontado como operador central, responsável por intermediar as relações entre associações fraudulentas e servidores públicos. Relatórios da PF indicam que Antunes movimentou R$ 53 milhões em valores oriundos de entidades sindicais e empresas relacionadas, muito acima da renda mensal de R$ 24 mil que declarava oficialmente. O ex-ministro afirmou que chegou a pedir, enquanto ainda ocupava o ministério, um levantamento sobre possíveis encontros dos dois. A pasta não teria identificado a coexistência dos dois no mesmo momento. O mesmo se aplicaria ao empresário Maurício Camisotti, a quem Lupi disse não conhecer.
Por outro lado, Lupi admitiu conhecer personagens centrais da CPI do INSS, como Milton Cavalo, presidente do o Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical (Sindnapi), antes mesmo de ocupar a pasta. O mesmo se aplicaria ao vice-presidente do sindicato, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
— Eu jantava com o presidente do Sindinapi antes mesmo dele ser presidente do Sindicato, por ser membro do PDT. Sobre o Frei Chico, já disse que estive junto antes e depois do ministério. Frei Chico nunca me fez qualquer pedido ligado ao Sindicato — garantiu.
Lupi foi perguntado sobre o aumento das fraudes contra os aposentados. Em 2023, o ministro editou, em janeiro, uma portaria que centralizava em seu gabinete as nomeações para cargos no INSS. A portaria transferia a prerrogativa de nomeações do presidente do INSS para Marcelo Panella, tesoureiro do PDT e chefe de gabinete.
Segundo Lupi, o Ministério apenas chancelava os nomes que eram levantados pelo INSS. Ele admitiu que recebeu várias denúncias de irregularidades e disse que deu encaminhamento a todas elas. Entretanto, o instituto só editou uma instrução normativa com medidas para inibir fraudes um ano depois, em março de 2024.
— Vários tipos de denúncias foram apresentadas e todas elas foram encaminhadas para apuração. O erro nosso foi ter acreditado que as medidas fossem eficazes na autarquia (INSS) e infelizmente, não foram — disse Lupi, acrescentando que ele tomou medidas para inibir as fraudes.
A portaria foi cancelada, após a Operação Sem Desconto que apontou um esquema de descontos indevidos dos aposentados para associações e entidades sindicais.
Ao deixar o ministério, no início de maio, Lupi saiu com certa mágoa pela forma como ocorreu seu desligamento. O ex-ministro pediu demissão quando a permanência ficou inviável após a eclosão do escândalo no INSS. Embora as investigações não citem Lupi, o entendimento no Planalto foi que prevaleceu a percepção na opinião pública de que ele não tomou providências para estancar os descontos. As apurações revelaram também uma demora nas ações do governo sobre o tema, mesmo após diversos alertas.
Em entrevista ao GLOBO, em abril, ele admitiu que houve demora em tomar medidas para conter as fraudes, mas negou omissão de sua parte. Mais de uma vez, o ex-ministro já afirmou a pessoas próximas sentir descontentamento por não ter sido alertado por outras áreas do governo sobre o rombo dos descontos das associações.