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Para ter sucesso, CPI do INSS deve evitar armadilhas

Por  Editorial / O GLOBO

 

 

Nenhum governo gosta de comissões parlamentares de inquérito, afinal elas sempre oferecem distração da agenda do Executivo e dão palco a parlamentares oposicionistas. Não é diferente com a CPI do INSS, comissão mista recém-instalada para esquadrinhar as responsabilidades pelos descontos fraudados de aposentados e pensionistas. Por falha de articulação política, a base do governo não conseguiu eleger nem o presidente nem o relator. Mas a CPI também preocupa a oposição — pois, embora tenham explodido no governo Luiz Inácio Lula da Silva, as fraudes começaram na gestão Jair Bolsonaro.

 

Não faltam motivos para justificar o trabalho dos deputados e senadores. Na origem da proliferação dos descontos indevidos em aposentadorias e pensões, está a escassez de recursos enfrentada por sindicatos e associações de trabalhadores com o fim do Imposto Sindical, extinto na reforma trabalhista do governo Michel Temer, em 2017. Sem o dinheiro do imposto, sindicatos tiveram de justificar sua existência por meio de serviços prestados às categorias. Boa parte se viu em apuros, e vários aderiram à fraude nas aposentadorias e pensões.

 

Maior item do Orçamento da União, o INSS é alvo conhecido da cobiça de golpistas e, por consequência, de diversas operações da Polícia Federal. A Sem Desconto, lançada em abril a partir de informações da Controladoria-Geral da União (CGU), vasculhou a transferência ilegal de dinheiro a associações e sindicatos. Descobriu que entidades de classe formalizavam Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) sem anuência dos beneficiários e transferiam quantias modestas, descontadas dos benefícios, a diversas entidades sindicais.

 

Os valores eram baixos, mas, descontados de milhões de beneficiários, representavam o desvio de bilhões de reais. A CGU constatou que 97% não haviam dado autorização para as contribuições. Das 29 entidades auditadas pela CGU, 70% não haviam entregado documentação completa ao INSS para assinar os ATCs. Fraude em cima de fraude. Num primeiro momento, estimou-se que, entre 2019 e 2024, haviam sido surrupiados até R$ 6,3 bilhões de segurados do INSS. Depois a estimativa foi reduzida para R$ 2,1 bilhões, considerando apenas aqueles que formalizaram pedido de reembolso, homologado pelo Supremo Tribunal Federal. Desse total, o INSS afirma já ter devolvido mais de R$ 1 bilhão.

 

Ainda que o dano seja reparado, falta identificar e punir os culpados. Para isso, o trabalho da CPI do INSS pode ser fundamental. O importante é que os parlamentares se concentrem nas evidências e na investigação, contendo a tentação de acusar este ou aquele governo e o ímpeto pelos holofotes inerente a toda comissão de inquérito. A polarização só fará mal. Outro risco a evitar é o desvio de prioridades. A CPI não é pretexto para o Congresso deixar em segundo plano a votação de propostas essenciais, como a reforma administrativa ou a PEC da Segurança. O importante é que, à margem da polarização, a CPI identifique os responsáveis pela fraude bilionária e dê sugestões efetivas para evitar que crimes assim se repitam.

 

SEDE DO INSS

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