União e PP ensaiam oposição com vaga no governo
União Brasil e PP selaram nesta terça (19) aliança caracterizada pela grande força política dos dois partidos somados e pelo descompasso constrangedor entre o discurso oposicionista que professam e as práticas governistas que adotam.
Juntas, as duas legendas lideram o ranking de número de deputados federais (109), senadores (14, mesma quantidade que PSD e PL), governadores (6) e prefeitos eleitos em 2024 (1.328).
A ideia é atuar, nas disputas de 2026 e 2028, como se fossem um só partido, em uma federação a ser homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Com isso, pelo menos nesses dois pleitos, formarão uma chapa única em todos os cantos do país, o que tende a facilitar a conquista de nova bancada robusta no Legislativo.
Associar dois partidos dessa monta, contudo, não é tarefa que se execute sem arestas. Embora seja de esperar pontos de tensão nos acordos estaduais, onde líderes regionais decerto vinham cevando seus próprios planos, é no âmbito nacional que as incoerências ressoam de forma gritante.
Em evento para anunciar a federação, sobraram críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com a defesa de um ajuste fiscal feito por meio do corte de despesas, não do aumento da arrecadação. Ou seja, menos impostos e menos Estado —na contramão do que costumam pregar as gestões petistas.
Não haveria nada a observar quanto a isso se não fosse por um detalhe: o União Brasil indicou três ministros para o governo Lula (Celso Sabino, do Turismo; Frederico de Siqueira Filho, das Comunicações; Waldez Góes, da Integração Nacional), enquanto o PP tem um nome na Esplanada (André Fufuca, do Esporte).
Consta que Antonio Rueda e Ciro Nogueira, respectivamente presidentes do União Brasil e do PP, gostariam de romper com o governo —até porque Ronaldo Caiado (União), governador de Goiás, alimenta pretensões presidenciais sempre que não está apoiando Jair Bolsonaro (PL).
O desembarque não ocorre, segundo se diz, porque integrantes de ambos os partidos desejam manter o poder de indicar quadros para cargos da máquina federal. Uma das principais resistências nesse sentido seria o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Chega-se, assim, a um arranjo que chama a atenção pela dissonância, mas não pelo ineditismo. Basta lembrar que o antigo PMDB permaneceu exatamente dessa forma durante vários anos em que dividiu o governo com o PT.
A boa notícia é que, agora, os vetores do sistema político apontam na direção certa. Regras aprovadas pelo Congresso há menos de uma década têm estimulado a criação de federações e a redução da quantidade de siglas, em uma bem-vinda racionalização do ecossistema partidário.
Com a decantação da nova fórmula, é possível vislumbrar um cenário em que a coerência programática sobrepuje a hipocrisia ideológica hoje prevalente.