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Trio do PT que causou ira de Cunha contra o governo não se arrepende

 

Ze geraldo

 

BRASÍLIA — O início da derrocada do governo Dilma Rousseff teve dia, hora e local: 2 de dezembro de 2015, às 14h, no Conselho de Ética da Câmara. No início daquela tarde de quarta-feira, três deputados do PT, que viriam a se tornar figuras capitais na queda da presidente, não tinham dimensão que faziam História. Uma história que não iria agradá-los. Zé Geraldo (PA), Léo de Brito (AC) e Valmir Prascidelli (SP), titulares do conselho, depois de muita pressão anunciavam que iriam votar pela cassação do mandato do então poderoso presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Em retaliação, quatro horas depois, às 18h, o peemedebista, num gesto que reuniu um volume de pessoas até então não visto em suas coletivas, anunciava a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma. Dezenas de parlamentares aproveitavam a cena para fazer selfies e gravar vídeos tendo Cunha ao fundo falando.

Nesta semana, ao GLOBO, os três petistas relataram como foram aqueles dias, a pressão que viveram e se, afinal, tinham noção de que o gesto que fizeram levaria à consequência que levou: o quase inevitável impeachment de Dilma.

— Vocês não têm ideia do que era nossa aflição. A pressão sobre nós foi muito grande. E pressão do Eduardo Cunha. Estava claro que, se votássemos contra ele, seria aberto o processo de impeachment contra a presidenta Dilma. Eduardo Cunha não blefa nesse tipo de coisa — lembra Léo de Brito.

“PRESSÃO SUBJETIVA” PARA APOIAR CUNHA

O deputado conta que “foi tudo muito desconfortável” pois era “uma decisão de grande complexidade”.

— Olhando para trás, não tínhamos dúvida, também, que o presidente da Câmara seria afastado. Mas não foi — complementa Brito, em entrevista concedida na última quarta-feira, um dia antes de o ministro Teori Zavascki, do STF, decidir pelo afastamento de Cunha.

Zé Geraldo, o mais radical entre os três, é direto: diz que uma decisão diferente da que tomaram seria o suicídio político de todos. O petista acha que faltou mobilização popular.

— Achei que, com nossa atitude, haveria uma ofensiva para tirar Eduardo Cunha. A esquerda, o PT, os aliados não intensificaram a luta. Deveríamos ter feito um acampamento permanente na Esplanada, com cinco mil, dez mil pessoas cobrando do STF a saída de Cunha. Ficou tudo muito calmo, muito solto — afirma Zé Geraldo.

O deputado só via aquela saída para eles e afirma que “tinha gente no PT que achava que não valeria a pena brigar com Eduardo Cunha, que não seria positivo”.



— Não tínhamos nenhuma sustentação do partido. Íamos virar reféns dele (Cunha) se o apoiássemos. Seria um suicídio político — conclui Zé Geraldo.

Valmir Prascidelli diz que Eduardo Cunha fez uma revanche a céu aberto e recorre a um termo diferente dos colegas. Segundo ele, houve uma “pressão subjetiva muito grande” para apoiarem Cunha no conselho.

— Seria leviano dizer que houve uma pressão explícita. Mas subjetiva, quem viveu, sabe. E como se deu? Em conversas nos corredores, em entrevistas de um ou outro deputado, funcionários que chegavam e nos diziam que Cunha iria retaliar. E por aí vai. E, se aquilo não foi revanchismo, não sei mais o que é — afirma Prascidelli, que, no entanto, se diz seguro da decisão tomada: — Não me arrependo do meu voto, imagina! Não me arrependo de nada.




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