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Excesso de depoimentos pode comprometer CPI da Covid

Mário Scheffer / O ESTADO DE SP

26 de maio de 2021 | 18h58

CPI votou requerimentos de convocação de novos depoentes nesta quarta-feira. Foto de Edilson Rodrigues/Agência Senado

Festival de rivalidades, a votação de novos requerimentos escancarou a malcomportada política de acordos dos senadores, mas também expôs a luta existencial pelo primado da CPI.

Não se sabe ainda quanto a apuração do suposto mau uso de verbas descentralizadas para combater a covid irá atrapalhar a linha original de investigação das responsabilidades do governo federal na pandemia.

Ao chamar governadores e ao mesmo tempo reconvocar o atual e o ex-ministro da saúde, a CPI quase antecipa bandeiras eleitorais de 2022: a pauta anticorrupção, que deverá ser requentada por Bolsonaro, e o prato farto de seus adversários, a negação e a omissão do presidente no combate à covid.

No jogo político da CPI, o excesso de requerimentos é pura obstrução. O treinamento de tiros dos governistas é moeda de negociação que pretende inviabilizar ou mudar o rumo do inquérito.

Congestionaram a avenida da CPI. Os 35 novos convocados, incluindo governadores, Pazuello e Queiroga, mas também especialistas, pessoas de menor escalão do governo e uma empresa, somam-se a outros nove nomes já aprovados e ainda não ouvidos.

CPI também é entretenimento. Depois do “pênis na porta da Fiocruz”, sensação de um áudio exibido, ontem, na CPI, um dos recém convocados leva show até no nome. O ex-assessor de Pazuello, “Markinhos Show”, que se apresenta em seu site como “master coach e hipnólogo”, foi quem bolou performances com avião adesivado, canhão de luz e jato d´água para recepcionar vacinas vindas da Índia.

Nas CPIs em geral, biografias parlamentares turbulentas buscam absolvição. Passados de glórias discretas querem despertar atenção. Mas são as fidelidades caninas e os ataques viscerais que se digladiam para o auditório. Porém, tantas vezes já se viu, ao fim, figurantes exaltados degustarem juntos a pizza, nome que a intuição popular deu às barganhas e ao fisiologismo perpetuados na relação entre Executivo e Legislativo no Brasil.

Na CPI da Covid, o fato concreto relevante, uma epidemia desgovernada, pode piorar ainda mais em 90 dias, tempo mínimo do inquérito parlamentar. Impossível negar que quase nada se moveu para melhor. Desde o início da CPI, a cobertura vacinal empacou e a vigilância sanitária vacilou, pois um passageiro vindo da Índia com teste positivo para possível nova cepa do SARS-CoV-2 circulou facilmente no país. Com planos destrambelhados de abertura, cresceu a transmissão do vírus e muitos Estados voltaram a ter ocupação crítica de leitos.

Se a CPI não for ajustada pela crescente pressão – já são mais de 450 mil mortos -, pretensão e efeito se tornarão dualidade insuperável. Se os senadores querem mesmo chegar a algum lugar, será por certo uma conquista inesperada do cipoal de depoimentos que acabaram de requerer.

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