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Alcolumbre quer emplacar Rodrigo Pacheco no Senado e Renan Calheiros na CCJ

Vera Rosa, O Estado de S.Paulo

10 de dezembro de 2020 | 13h04

Caro leitor,

A menos de dois meses da eleição que vai renovar a cúpula do Congresso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), tentará emplacar Rodrigo Pacheco como seu sucessor, em 1.º de fevereiro de 2021. Líder do DEM, Pacheco é advogado e está sendo apresentado pelo padrinho como um nome “independente”, mas que não criará problemas para o Palácio do Planalto. Em busca do apoio de uma ala do MDB a seu candidato, Alcolumbre negocia agora o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante do Senado, para o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Na disputa de 2019, Renan foi adversário de Alcolumbre, mas renunciou à candidatura quando percebeu que perderia, no rastro das críticas por encarnar a “velha política” e ser réu da Lava Jato. De lá para cá, no entanto, Alcolumbre se aproximou de Renan e os tempos mostraram que a “nova política” anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro era apenas uma palavra de ordem para manter sua tropa de choque unida.

Davi Alcolumbre
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado - 20/10/2020

Uma coisa, porém, não mudou: o MDB, maior bancada da Casa, com 13 senadores, está novamente rachado e não pretende abrir mão de entrar na briga. Os líderes do governo no Congresso, Eduardo Gomes, e do MDB, Eduardo Braga, já se apresentam nas rodas políticas como pré-candidatos à vaga de Alcolumbre. A atual presidente da CCJ, Simone Tebet, também cobiça o posto.

Diante dessa divisão, a estratégia montada por Alcolumbre para fisgar o MDB no Senado não apenas não prosperou até o momento como tem provocado impacto na montagem da chapa na Câmara. Nos bastidores, integrantes da cúpula do DEM argumentam que, se o deputado Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, conseguisse fazer com que senadores de seu partido desistissem da candidatura própria para aderir à campanha de Rodrigo Pacheco, tudo seria diferente.

Nessa solução casada, cada vez mais improvável, o próprio Baleia Rossi poderia ser o nome apoiado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o duelo no Salão Verde.

Até agora, no entanto, o deputado Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB), é o preferido de Maia para enfrentar o adversário Arthur Lira (Progressistas-AL), que nesta quarta-feira, 9, lançou sua candidatura ao comando da Câmara, com aval do Palácio do Planalto. Chefe do Centrão, Lira está conquistando a simpatia de uma ala da oposição com a promessa de espaços na Mesa Diretora da Câmara e em comissões estratégicas. De olho nos votos do PT, ele também pediu uma conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Não há distinção entre ser do Centrão e ser de partido que se diz independente, mas tem ministérios e cargos no governo”, afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que defende Lira, dando uma estocada no DEM de Maia. “Por acaso o DEM é oposição? Estão todos no mesmo balaio”.

Maia, por sua vez, se movimenta para driblar resistências e insatisfações no próprio grupo após anunciar internamente que está mesmo disposto a indicar Aguinaldo para ocupar a sua cadeira. Desde que ele deu sinais de quem é o seu favorito, desagradou ao MDB, ao Republicanos do deputado Marcos Pereira e até mesmo ao seu partido, o DEM.

Baleia Rossi sempre esperou contar com o respaldo do presidente da Câmara. O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), por sua vez, planejava até mesmo retirar a candidatura à presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO) para ser o nome ungido por Maia no confronto com Arthur Lira.

O desafio de Maia, neste momento, é evitar a debandada de antigos aliados e impedir que a oposição, fiel da balança nesse embate, migre para os braços de Lira e do Centrão. O presidente da Câmara só recuará na escolha de Aguinaldo, segundo seus interlocutores, se perceber risco de naufrágio.

“A gente sabe que o governo vai rasgar o próprio discurso e jogar pesado para eleger o seu candidato e derrotar o presidente da Câmara”, disse Maia, nesta quarta, numa referência às negociações em curso para a distribuição de cargos, recursos e emendas parlamentares.

Aguinaldo é filiado à mesma sigla de Lira, o líder do Centrão. Com esse imbróglio partidário à vista, as tratativas são para que a candidatura dele, hoje relator da proposta de reforma tributária, seja patrocinada pelo PSL do deputado Luciano Bivar. 

Mas, da mesma forma como o Supremo Tribunal Federal decidiu barrar a possibilidade de recondução de Maia à presidência da Câmara e de Alcolumbre ao Senado em reviravolta de última hora, na esteira da repercussão negativa ao que seria uma afronta à Constituição, tudo pode mudar. Em conversas reservadas, até aliados de Maia têm dito que hoje, a 13 dias do recesso parlamentar, o café servido por ele começa a ficar frio.

Vera Rosa

Vera Rosa

Repórter especial em Brasília

Jornalista formada pela PUC-SP, sou repórter da Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. Antes, trabalhei no Estadão e no Jornal da Tarde, em SP. Sou paulistana, adoro notícia, cinema e doces, mas até hoje não 

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