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'Criar tensão institucional não ajuda o país', diz Maia sobre compartilhamento de vídeo por Bolsonaro

 

BRASÍLIA — O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez uma defesa da democracia, na tarde desta quarta-feira, dia seguinte ao compartilhamento pelo presidente Jair Bolsonaro de um vídeo convocando para manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Nas redes sociais, ele disse que "criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir".

"Somos nós, autoridades, que temos de dar o exemplo de respeito às instituições e à ordem constitucional. O Brasil precisa de paz e responsabilidade para progredir. Só a democracia é capaz de absorver sem violência as diferenças da sociedade e unir a Nação pelo diálogo. Acima de tudo e de todos está o respeito às instituições democráticas", disse Maia. 

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não se pronunciou, por ora. Ele tem sido cobrado a se manifestar. A mobilização ganhou força na semana passada, após o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, ter atacado parlamentares, acusando-os de fazer “chantagem”.

Parlamentares também reagiram ao compartilhamento do vídeo por Bolsonaro. Para parte deles, o presidente cometeu crime de responsabilidade.

— É inexplicável. Não se recomenda isso na boa prática da democracia. É extremamente irresponsável. A não ser que tenha sido para criar um factoide político, não vejo nenhuma razão para que o presidente da República e generais estejam mobilizando a população contra o Congresso, que tem buscado trabalhar com absoluta transparência. Todos sabem o que ocorre no Congresso, o que não é verdade em outros Poderes — diz o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM).

'Perplexidade'

O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), disse que "quer imaginar que seja alguém usando o celular de Bolsonaro, como já ocorreu em outras circunstâncias".

— Se não for, ele acaba apagando incêndio com gasolina. Já temos uma relação difícil entre governo e Congresso. Uma manifestação para defendê-lo é absolutamente legítima. Mas como tem chamamento contra Maia e Alcolumbre, isso é politicamente analisado como uma ruptura entre instituições. Isso é muito grave para estabilidade do país. Temos muitos projetos importantes no Congresso para o equilíbrio das finanças e pela segurança pública. Isso em nada contribui para o andamento deles - avalia Olímpio.

Segundo o senador, a noite de terça-feira foi de "perplexidade na classe política".

— A eleição de um político sem tanta estrutura partidária, como foi a dele, é a maior prova da democracia plena. Uso de força, de agressividade, isso não contribui — completa Olímpio.

O líder do PSD, Otto Alencar (BA), diz que "os presidentes da Câmara e do Senado têm de tomar decisão urgente que garanta democracia e liberdade que Brasil precisa ter nesse momento para garantir funcionamento das instituições". Para ele, a primeira medida é a convocação do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que, antes do carnaval, acusou os congressistas de "chantagearem" o governo e pediu que a população fosse às ruas defender Bolsonaro.

— Ele tem de nominar os parlamentares que estão fazendo chantagem. Essa generalização (de Heleno e Bolsonaro) contra o Congresso fragiliza a democracia. O Congresso foi eleito. É a representação da população — diz Alencar.

Para o senador, o presidente cometeu crime de responsabilidade.

— O presidente afronta contra o artigo 85 da Constituição (crime de responsabilidade), quando ele faz esse chamamento para que a população vá às ruas fazer um contraponto contra o Congresso. Isso está muito claro na Constituição. Eu nunca deixei de ter convicção de que o presidente tem esse espírito ditatorial, de buscar sempre uma reação contra a legislação — afirma Alencar.

O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) o cobrou nas redes sociais. "A democracia exige defesa e retaliação ao ocorrido", escreveu, pedindo também que o presidente do Supremo, Dias Toffoli, se manifeste.

O líder do PSDB no Senado, Roberto Rocha (MA), minimizou o ocorrido, mas também criticou o compartilhamento:

— Não foi o presidente que fez o vídeo. Não foi em suas mídias sociais, nas quais ele tem dezenas de milhões de seguidores. Foi seu grupo pessoal de WhatsApp, em que ele apenas compartilhou. Menos pior. Mesmo assim, acho que não deveria tê-lo feito, pois trata-se do presidente da República.

Líder do PDT, Weverton Rocha (MA) diz que "é muito grave a informação de que o presidente da República está convocando ato contra os outros Poderes".

— Congresso e STF fechados, só numa ditadura. Precisamos unir os que acreditam na democracia — diz.

Em nota, o PSOL diz que "o Congresso é um dos pilares da democracia e não podemos nos calar e aceitar que a qualquer crise entre os poderes se envolva o nosso Exército, que sempre esteve a postos para manter a ordem e a nossa soberania".

"Ao envolver-se diretamente na convocação de manifestações pelo fechamento do Congresso Nacional, Bolsonaro comete crime de responsabilidade e crime de improbidade. É preciso uma resposta dura. O silêncio dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal precisa ser rompido urgentemente. Medidas podem e devem ser tomadas no âmbito do STF", diz o partido.

Maia se manifestou uma hora depois da publicação da nota. O partido ainda convocou militância e simpatizantes a participar de mobilizações em março em defesa dos direitos humanos

Extrema direita

O deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), conhecido como Paulinho da Força, diz que só a formação de uma “amplíssima frente” no país é capaz de “inibir e barrar a escalada das forças de extrema direita que buscam a ruptura com a democracia e querem o retrocesso institucional”.

Em uma nota intitulada “Democracia ou Retrocesso”, o deputado afirma que o “O Brasil corre o sério risco de ingressar numa encruzilhada imprevisível entre o retrocesso autoritário e a continuidade do regime democrático” e que “é importante que esse movimento de construção da frente unitária aponte iniciativas já para agora, como resposta democrática à provocação disparada em vídeo assumido pelo presidente e esparramado nas redes sociais, que conclama confronto contra as instituições democráticas”.

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