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Lula, Dirceu e o PT dividiam propinas de plataformas do pré-sal, diz ex-diretor da Petrobrás

Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso

03 Agosto 2018 | 18h14

O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque afirmou ao juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato em Curitiba, nesta sexta-feira, 3, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro José Dirceu e o PT dividiam os dois terços da propina arrecadada com os contratos de plataformas para exploração do petróleo do pré-sal da Sete Brasil.

“Ele (Palocci) não concordou (com a divisão de meio a meio da propina) e está determinando a divisão de 1/3 e 2/3. Um terço para a Casa e dois terços para o partido”, teria dito Vaccari a Duque. “Casa” era o nome usado para a propina destinada aos executivos da Petrobrás e da Sete Brasil. “Esses dois terços para o partido seriam divididos entre Lula, José Dirceu e o partido.”

O ex-diretor foi interrogado em ação penal que apura propinas do estaleiro da Jurong. Ele diz ter ouvido de João Vaccari Neto, o ex-tesoureiro do PT responsável pela arrecadação de propina para o partido na Sete Brasil, que o ex-ministro Antonio Palocci era o responsável pelo acerto e dava as coordenadas.

“Quem está cuidando desse assunto é o doutor Antônio, se referindo a Palocci”, teria dito Vaccari, quando consultado sobre a forma de divisão da propina entre os políticos e os executivos da Petrobrás e da Sete Brasil, no bilionário negócios de plataformas para o pré-sal. A empresa foi criada em 2010 para intermediar os contratos com estaleiros e está em recuperação judicial.

“Lula, quem cuidaria (do dinheiro da propina) seria Palocci. Zé Dirceu receberia através da Engevix, o agente seria o Milton Pascowicht e o partido seria por conta do Vaccari.”

Duque diz que “a propina era institucionalizado”. “Todos os estaleiros pagaram”, afirmou o ex-diretor, multi condenado na Lava Jato, que teve seus acordos de colaboração premiada rejeitados pelo Ministério Público Federal e passou a colaborar diretamente com a Justiça.

Duque confessou a Moro que recebeu cerca de US$ 3,8 milhões de propinas do negócio da Jurong com a Sete Brasil. O dinheiro foi pago em uma conta aberta em Milão, no banco Cramer.

Duque afirmou ter ouvido de Vaccari um pedido de Lula para que ficasse no cargo na Petrobrás até a consolidação do projeto de criação da Sete Brasil. O ex-tesoureiro do PT teria dito a ele, que recebeu “uma incumbência do Lula pedindo que eu ficasse até o término desse processo”.

“(Disse) Que esse processo era muito importante não só para o País como para o PT.”

Plataformas. Os contratos de plataformas feitos a partir de 2011 envolveriam propina de 1% com os estaleiros Jurong, Brasfels, Enseada do Paraguaçu, Ecovix e Atlântico Sul. Ao todo, eram mais de US$ 20 bilhões em contratos.

Segundo Duque, os pagamentos da Jurong e dos estaleiro internacionais foram destinados aos executivos da Petrobrás e da Sete Brasil, chamado por eles de “Casa”.

O valor dos 2/3 para o PT seria bancado pelos estaleiros criados pelas empreiteiras brasileiras, como o da Odebrecht, OAS e UTC, detalhou. Foi ele que teria pago a parte destinada a Lula.

Duque explicou que a parte destinada a Dirceu teria saído do estaleiro da Engevix e a do PT do estaleiro da Queiroz Galvão e Camargo Corrêa.

Dois processo de propinas de estaleiros nos negócios da Petrobrás via Sete Brasil já foram julgados. Um deles das propinas do Estaleiro Enseada Paraguaçu, da Odebrecht, OAS e UTC.

Na mega delação da empreiteira, três delatores também afirmaram que Palocci foi quem cobrou 1% de propina pelos contratos das sondas de perfuração marítima. Seriam seis unidades feitas pelas associadas.

Rogério Araújo, que era o contato da empresa no negócio, disse ter ouvido de um ex-executivo da estatal que o “Sapo Barbudo”, que seria uma referência ao ex-presidente Lula, teria dado instruções sobre o acerto ao PT.

Em 2017, no processo das propinas da Keppel Fels, Duque já havia falado para Moro da divisão dos valores e do comando de Palocci na parte destinada a Lula.

Depoimentos. Nesta sexta-feira, o juiz da Lava Jato ouviu depoimentos de quatro réus desse terceiro processo a ser julgado na Lava Jato envolvendo o bilionário negócios dos 21 navios-sondas da Sete Brasil. Além de Duque, falaram Eduardo Musa, delator que era diretor da Sete Brasil e confirmou recebimento de propinas e as divisões de valores com o PT, Guilherme Esteves, lobista representante da Jurong no negócio, e João Vaccari.

Nesse processo da propina da Jurong, que tem US$ 2,1 bilhão em contratos com a Sete, a propina é de US$ 18,8 milhões. O cálculo toma como base o percentual 1% confessa por empresas e pelos agentes públicos da Petrobrás e por dois ex-executivos da Sete Brasil em suas delações premiadas.

COM A PALAVRA, LULA

Por meio de sua Assessoria, Lula declarou. “O ex-presidente teve todas as suas contas vasculhadas e jamais recebeu valores ilegais ou teve em Palocci seu representante para receber qualquer valor. Não vamos comentar declarações sem nenhuma prova de presos que buscam fechar acordos para obter benefícios judiciais.”

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ROBERTO PODVAL, DEFENSOR DE ZÉ DIRCEU

“Diante da situação em que se encontra Renato Duque é absolutamente compreensível, que depois de anos de prisão, diga o que seus acusadores gostariam de ouvir.”

COM A PALAVRA, O PT

A reportagem fez contato com o PT. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, JOÃO VACCARI

João Vaccari também foi interrogado por Moro nesta sexta-feira, mas por orientação de sua defesa informou que permaneceria calado.

O ex-tesoureiro nega no processo qualquer envolvimento com arrecadação de propinas e ilícitos.

 

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