Edifícios de cooperados da Bancoop estão na mira da Operação Lava-Jato
SÃO PAULO - Embora altas, as duas torres do Condomínio Casa Verde, na Zona Norte de São Paulo, não conseguem ocultar uma ausência. Onde deveria haver um prédio com cerca de 80 apartamentos, há só o concreto de uma laje. O drama dos cooperados da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo) começou há cerca de dez anos, quando parte deles descobriu que não receberia os apartamentos de 64 metros quadrados pelos quais já haviam pagado cerca de R$ 120 mil.
O que se seguiu foram batalhas administrativas e disputas judiciais até que, há três anos, a OAS assumiu as obras prometendo aprontar tudo até o fim do ano passado, em troca de cerca de mais R$ 50 mil de cada cooperado. Três anos depois, não há sinal da nova torre, a OAS entrou em recuperação judicial após seus executivos serem condenados no maior escândalo de corrupção do país e disse aos moradores que não deve mais fazer a obra. Para a surpresa dos proprietários do Condomínio Casa Verde, cujo sonho era ter uma casa própria, o local foi incluído na lista de obras investigadas pela Lava-Jato.
— Estamos assustados e decepcionados, porque essa era a nossa luz no fim do túnel. Agora a luz apagou — diz o empresário Edward Mazzei, morador de uma das duas torres construídas.
Embora consiga habitar o apartamento, Mazzei tem de entrar pela garagem: a portaria nunca ficou pronta e foi improvisada pelos condôminos. E ninguém possui escritura, o que impede a venda ou o aluguel e gera insegurança sobre a posse. Agora, dizem os condôminos, a OAS pede que paguem R$ 1,2 milhão para voltar a ter controle administrativo do local e poder procurar uma construtora que, por ainda mais dinheiro, aceite finalizar e regularizar o condomínio.
— No fim do ano passado montamos comissão para ir à OAS. Uma das diretoras nos disse que nem sabia se eles ainda estariam ali em 1º de janeiro. A insegurança é total — relata Mazzei.
Situação semelhante vivem os compradores do Residencial Liberty Boulevard, no bairro da Liberdade. Um dos edifícios do condomínio foi concluído. O outro é um esqueleto de alvenaria com placa da OAS. Os moradores afirmam que há mais de seis meses nenhum operário trabalha na construção. O médico Djalmir Caparróz, dono de um dos apartamentos que diz já ter quitado, pagou pelo menos mais R$ 20 mil para a OAS reiniciar a obra. Teme perder todo o dinheiro: — A OAS mandou carta dizendo que ia tentar retomar. No começo os via mexendo ali na torre. Pensei: “Dessa vez vai”. Fica a revolta de passar por isso outra vez.