Preso na Lava Jato, Bumlai assume fraudes em empréstimo de R$ 12 mi
Pecuarista disse acreditar que dinheiro seria para pagar dívida de campanha. MPF diz contrato na Petrobras foi usado para quitar empréstimo no Schahin.
O pecuarista José Carlos Bumlai confessou em depoimento dado à Polícia Federal, em Curitiba, na segunda-feira (14), que houve fraude na quitação de um empréstimo de R$ 12 milhões feito por ele no Banco Schahin. Ele disse também acreditar que o dinheiro seria para pagar dívidas de campanha eleitoral em Campinas (SP) e para "caixa 2" do PT.
O pecuarista foi preso em novembro durante a 21ª fase da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de fraude, corrupção e desvio de dinheiro na Petrobras. O ato de qualificação do interrogatório de Bumlai informa que o pecuarista manifestou interesse em confessar os fatos, corrigindo parte das declarações dadas no primeiro depoimento à Polícia Federal. Inicialmente, Bumlai havia negado qualquer irregularidade. Tudo foi acertado, conforme Bumlai, em uma reunião durante uma noite de outubro de 2004, na sede do banco, em São Paulo. Estavam presentes, segundo Bumlai, o então presidente do Banco Schahin, Sandro Tordin, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e profissionais da área de propaganda e marketing, que segundo Bumlai, prestavam serviços para ele e para partidos políticos.
O empresário contou que os profissionais da área de propaganda e marketing afirmaram que precisavam levantar recursos para a campanhas que estavam entrando em segundo turno e que Delúbio Soares disse que gostaria de ter acesso à parte do recurso. De acordo com o pecuarista, Delúbio também não esclareceu o percentual do empréstimo que seria destinado ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Bumlai declarou à Polícia Federalque não foi dito o destino do dinheiro. Ele disse também, conforme o depoimento, ter entendido que Delúbio representava os interesses do PT na reunião.
De acordo com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, o empréstimo, que não chegou a ser pago por Bumlai, foi quitado por meio do contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000 da Petrobras com a Schahin Engenharia.
A denúncia apresentada pelo MPF à Justiça na segunda-feira (14) indica que o custo de afretamento do navio-sonda foi de US$ 1,6 bilhão.
O empresário afirmou que a conversa que teve com Sandro Tordin, quando houve o primeiro vencimento do empréstimo, o fez concluir que "o retardo na quitação do empréstimo estava acompanhado de interesses escusos do Grupo Schahin em eventualmente conseguir contratos para operação de sondas na Petrobras".
Ele negou que tenha pedido ao lobista Fernando Baiano, a Nestor Cerveró, a Jorge Zelada, a João Vaccari Neto, a Luiz Moreira e a Luiz Inácio Lula da Silva qualquer "espécie de interferência interna na Petrobras que viesse a agilizar a contratação da Schahin". Cerveró e Zelada são ex-funcionários da Petrobras e foram denunciados junto com Bumlai.
Bumlai disse que tentou pagar o empréstimo e confirmou que foi procurado por um advogado do Banco Schahin para articular a quitação. Essa simulação foi feita por meio de um falso contrato de venda de embriões bovinos para fazendas do Grupo Schahin. Ele confessou, segundo o depoimento, não ter entregado embrião algum.
O pecuraista afirmou que acredita que outros empréstimos podem ter sido feitos em nome de "laranjas".
Bumlai e Vaccari Neto Sobre o envolvimento do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, Bumlai afirmou que o procurou, relatando o empréstimo, os repasses e pedindo ajuda para a quitação. O ex-tesoureiro foi preso pela Operação Lava Jato e já foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em virtude de crimes cometido na Petrobras.
De acordo com o pecuarista, à época, Vaccari não tinha conhecimento prévio da participação de Delúbio Soares e de marqueteiros ligados ao PT na obtenção de empréstimos em nome de Bumlai.
Em outro encontro, de acordo com Bumlai, Vaccari informou Bumlai que havia negociações com o Grupo Schahin para a operação do navio-sonda Vitória 10.000. Ainda de segundo relatado por Bumlai, Vaccari disse que o problema do pecuarista seria resolvido.
A reunião Bumlai afirmou que, em outubro de 2004, foi chamado para uma reunião na sede do Banco Schahin, em São Paulo, na mesma noite da ligação, sem ser informado sobre o tema do encontro.
Ele disse que achava que o empréstimo não iria ocorrer devido às circunstâncias da reunião. Contudo, segundo o pecuarista, Sandro Tordin levou para a casa do pecuarista, sem hora marcada, os documentos que deveriam ser assinados.
Ao ser questionado por que aceitou fazer o empréstimo nestes termos, Bumlai afirmou que ficou constrangido, “ainda mais porque os destinatários reais da operação garantiram-lhe que o empréstimo seria quitado rapidamente”. Além disso, o pecuarista afirmou que o constrangimento também estava atrelado ao fato do Partido dos Trabalhadores possuir “muita força no cenário nacional”.
O empresário se caracterizou como "testa-de-ferro na circunstância".
Relação com Lula Bumlai disse ser amigo do ex-presidente da Luiz Inácio Lula da Silva. Ele relatou que mantinha encontros aos fins de semana com Lula e que, pelas regras que tinham, não discutiam assuntos econômicos ou políticos.
O pecuarista, conforme o depoimento, fez questão de reforçar que nunca procuraria o então presidente para que interferisse nesta ou qualquer outra questão comercial.
Segundo o empresário, em tentativas para resolver o empréstimo, Sandro Tordin chegou a dizer que os dirigentes do banco iriam mantê-lo como "refém", principalmente, pela relação de amizade entre Bumlai e Lula.
Outro lado Por meio de nota, a defesa de Bumlai afirmou que o pecuarista confessou o empréstimo.
"Jose Carlos Bumlai admitiu o empréstimo para repassar os valores ao PT, mas somente soube do destino do dinheiro muitos anos depois pela imprensa. Por muito tempo tentou quitar a dívida, mas o banco curiosamente nunca aceitou. Foi então que soube que seu débito estava sendo usado pelo Banco para conseguir benefícios em contratos com a Petrobrás. Se o MPF tivesse esperado o interrogatório e a conclusão do inquérito antes de oferecer a denúncia, o processo já se iniciaria com os fatos devidamente esclarecidos".
O Instituto Lula disse, também por meio de nota, que o ex-presidente reafirma que "jamais autorizou qualquer pessoa a utilizar o seu nome em qualquer tipo negócio". Já defesa de Salim Schahin, acionista do grupo, informou que ainda não foi notificada e que se manifestará no processo.
O Partido dos Trabalhadores reitera que todas as doações recebidas pelo partido foram recebidas estritamente dentro da legalidade e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral.
O G1 tenta contato com advogados de Delúbio Soares.