Em rascunho de delação, Cerveró diz que Dilma 'sabia de tudo' de Pasadena
Na minuta preliminar da sua delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que a presidente Dilma Rousseff "sabia de tudo de Pasadena" e que ela "me cobrava diretamente".
A refinaria, comprada nos Estados Unidos, teve superfaturamento de US$ 792 milhões, na avaliação do TCU (Tribunal de Contas da União), e foi adquirida após encaminhamento favorável de Dilma, que na época era presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
O acordo de delação foi assinado na última quarta-feira depois que a defesa de Cerveró entregou à PGR (Procuradoria Geral da República) evidências de que osenador Delcídio do Amaral(PT-MS), tentou,em conluio com o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, fazer com que ele não firmasse colaboração com a Justiça. Delcídio e Estevesforam presospela Polícia Federal na manhã desta quarta. As informações sobre a minuta da delação foram repassadas pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS) em reunião com o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, e com o filho do ex-diretor, Bernardo durante a discussão de um acordo em que Cerveró livraria Delcídio e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.
Delcídio leu para os participantes a minuta da delação de Cerveró à qual ele teve acesso —documento que era sigiloso.
Segundo o senador, Cerveró relatou que Dilma "acompanhava tudo de perto" da refinaria de Pasadena e que fez várias reuniões com ela para tratar do assunto.
A delação de Cerveró ainda não foi homologada pela Justiça. Nos seus depoimentos, ele também teria falado que a operação de Pasadena rendeu dinheiro para Delcídio.
CARDOZO
O senador petista afirmou ainda, na conversa, que conversou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre um ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que havia sido indicado em agosto e empossado no fim de setembro.
Eles conversavam sobre um habeas corpus para Cerveró e o ex-diretor Renato Duque, também preso, dando a entender que ele daria uma decisão favorável à liberdade deles.
"Sobre o STJ, ontem eu conversei com o Zé Eduardo, muito possivelmente o Marcelo na turma vai sair", disse Delcídio.
VITÓRIA 10.000
Entre os cerca de 28 anexos que integram a negociação feita entre o ex-diretor da estatal e os procuradores está um sobre o navio-sonda Vitória 10.000. Nele, o executivo diz que parte dos contratos da sua operação teve direcionamento para políticos do PT e do PMDB, entre eles o próprio Delcídio do Amaral e os senadores Jader Barbalho (PMDB - PA) e Renan Calheiros (PMDB - AL).
Ele também diz que negócio da sonda foi feito com o grupo Schahin para quitar uma dívida com o PT, versão revelada outros três delatores.
Até o momento, Cerveró não entrou em detalhes sobre os anexos de sua delação. Ele prestou apenas um depoimento na semana passada, poucos dias depois de ser transferido para o Complexo Médico Penal, em, Pinhais, na quinta (12). Seu acordo foi assinado menos de uma semana depois.
COMUNICADO
Segundo pessoas próximas a Cerveró, ele tem se mostrado aliviado desde que fechou o acordo, pois passou a ter data definida para sair da prisão. Segundo a Folha apurou ele dele ir para casa no meio de 2016.
No entanto, Cerveró não escondeu dos companheiros de prisão o receio do que pode acontecer com familiares, principalmente com o filho Bernardo, que fez gravações de Delcidio do Amaral que culminaram na prisão do senador petista. Ele falou a outros presos que tem receio de retaliações.
Também comentou que estava decepcionado com o comportamento do seu advogado, Edson Ribeiro, que participou das negociações.
O estado de saúde mental de Cerveró era uma das principais preocupações da família. Diante de duas tentativas frustradas de negociação com a PGR, o ex-diretor se mostrava deprimido e com oscilações de humor. Ele também emagreceu cerca de dez quilos.
AGUIRRE TALENTO
MÁRCIO FALCÃO
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ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO