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MPF/GO denuncia oito suspeitos de atuar em cartel de obras de ferrovias

O Ministério Público Federal em Goiás (MPF/GO) ofereceu denúncia contra oito pessoas suspeitas de envolvimento na operação "O Recebedor", deflagrada em fevereiro deste ano, que investiga formação de cartel e outras irregularidades na construção Ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste. A apuração é um desdobramento da operação Lava Jato, que apura um esquema de corrupção na Petrobras.

Os crimes atribuídos aos envolvidos são prática de cartel, corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro e fraudes em licitação. Em valores corrigidos, os desvios podem ter chegado a mais de R$ 600 milhões, somente em Goiás, entre 2006 e 2011. O MPF/GO pede na Justiça o ressarcimento do montante. 

Entre os denunciados, estão José Francisco das Neves - conhecido como Juquinha - ex-presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias (empresa estatal ferroviária ligada ao Ministério dos Transportes) responsável pelas obras, e Ulisses Assad, ex-diretor de engenharia da empresa.

Além deles, também são citados outras seis pessoas: João Ricardo Auler, José Ivanildo Santos Lopes, Rafael Mundim Rezende, Heli Lopes Dourado, Juarez José Lopes de Macedo e Josias Gonzaga Cardoso. Todos, segundo a investigação, têm relação com o esquema de irregularidades.

G1 tenta contato com a defesa dos denunciados.

"Concorrência de mentirinha"
Segundo o procurador da República, Hélio Telho, oito empreiteiras são investigadas na operação. Ele explica que elas promoviam uma "concorrência de mentirinha" para simular que havia uma competição pela licitação que, no entanto, já estava definida. A situação configurava o crime de cartel.

"Várias empresas fazem um acordo para anular a competição, para combinar os preços dos lotes da ferrovia cedidos para as vencedoras das licitações. Os editais eram direcionados e restringiam outras empresas para que apenas o grupo daquelas empreiteiras tivessem condições de participar. Elas apresentavam um preço que tinha uma concorrência de faz de conta", disse em coletiva nesta quinta-feira (19). .

Ex-presidente da Valec, Juquinha Neves, é preso suspeito de desviar verba, em Goiás (Foto: Reprodução TV Anhanguera)Juquinha Neves era o garantidor do esquema 
(Foto: Reprodução TV Anhanguera)

Telho explicou ainda que ninguém está preso e que não há pedidos de detenções como ocorreu na deflagração da operação. Naquela ocasião, a Justiça negou as requisições do MPF/GO.

A investigação apontou que Juquinha das Neves recebeu R$ 2,2 milhões de propina. O procurador afirma que não há indícios de que ele tenha iniciado o esquema, mas foi recrutado para participar.

"O cartel existe antes do Juquinha. Não é possível dizer que ele era o chefe. O que se observou é que ele foi cooptado pelo esquema que pagou propina para ele. O Juquinha teve papel importante na expansão, quando formava os consórcios e decidida qual empresa ficaria com qual lote”, destaca.

No âmbito da operação, já foram instauradas dez ações judiciais e 37 processos contra pessoas físicas e jurídicas envolvidas. Mais de R$ 136 milhões foram bloqueados para ressarcimento ao erário.

Acordo de leniência
O esquema começou a ser investigado após um acordo de leniência firmado com a construtora Camargo Corrêa. Em acordos do tipo, uma empresa envolvida em algum tipo de ilegalidade denuncia o esquema e se compromete a auxiliar um órgão público na investigação. Em troca, pode receber benefícios, como redução de pena e até isenção do pagamento de multa.

Segundo o MPF/GO, a Camargo Corrêa se comprometeu a restituir R$ 700 milhões aos cofres públicos, dos quais R$ 75 milhões são destinados a ressarcir os danos acusados à Valec.

Operação 'O Recebedor'
A operação foi deflagrada na manhã no dia 26 de fevereiro em Goiás, Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Ao todo, são cumpridos sete mandados de condução coercitiva e 44 de busca e apreensão no país. Destes, sete mandados foram em Goiás, sendo que três ainda estavam sendo cumpridos.

Policiais federais recolhem documentos durante operação em Goiânia, Goiás (Foto: Murillo Velasco/G1)Policiais federais recolhem documentos durante operação em Goiânia (Foto: Murillo Velasco/G1)

Segundo o MPF/GO, o objetivo da operação é o de recolher provas sobre o pagamento de propina para a construção das Ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste, bem como prática de cartel, lavagem de dinheiro e superfaturamento.

Ferrovia Norte-Sul
A Ferrovia Norte-Sul foi inaugurada no dia 22 de maio de 2014, depois de cerca de 25 anos do início das obras. O trecho entre Palmas, no Tocantins, e Anápolis, em Goiás, tem 855 quilômetros de trilhos.

Apesar da inauguração, a primeira viagem só foi feita em dezembro do ano passado. Devido à demora da obra, a Valec não soube precisar quanto de dinheiro já havia sido gasto. A estatal estimou, na época, a quantia de US$ 8 milhões. Denúncias de irregularidades marcaram a construção.

Em novembro, o MPF-GO ofereceu denúncia contra oito pessoas suspeitas de superfaturar obras da Ferrovia Norte-Sul em Goiás. Todos eles devem responder por peculato e, se condenados, podem pegar até 12 anos de prisão.

O prejuízo com cargas que deixaram de ser transportadas, perdas e impostos não arrecadados pode chegar a US$ 12 bilhões por ano, segundo a Valec.

Mesmo após inauguração, trecho da ferrovia Norte-Sul segue sem ser utilizado (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Primeira viagem da Norte-Sul ocorreu em dezembro do ano passado (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

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