Witzel aponta para Bolsonaro tentando tirar foco das acusações
Para reagir ao afastamento do cargo de governador, Wilson Witzel disparou em mais de um alvo. Acusou o presidente Jair Bolsonaro de estar por trás da determinação do ministro do Superior Tribunal de Justiça Benedito Gonçalves que o retirou do poder. Criticou a subprocuradora Lindôra Araújo e a Lava-Jato. A força-tarefa de Curitiba foi alvo de ataques do procurador-geral da República, Augusto Aras, justamente depois de um atrito com Lindôra. Witzel tentou colocá-los no mesmo balaio.
O governador afastado também saiu em defesa de outros políticos investigados ou já condenados, como os ex-presidentes Lula e Michel Temer e o ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel. As menções foram para criticar o trabalho do Ministério Público e relacionar investigações de denúncias de corrupção a um risco para a própria democracia.
Há um paralelo com o desafeto Bolsonaro, cujo filho Flávio é investigado por suspeita de "rachadinha" quando era deputado estadual. Witzel mencionou direta e indiretamente o caso no pronunciamento desta sexta-feira. Mas as suspeitas só existem por causa do trabalho do Ministério Público que o governador afastado quer desmerecer. Assim como Bolsonaro, que ironizou na manhã de hoje o afastamento, critica procuradores e promotores quando se aproximam de sua família. O recurso a teorias conspiratórias e complôs também é comum a Bolsonaro.
As objeções do ex-juiz merecem ser avaliadas. É um direito a que todos os acusados têm, na Justiça ou no tribunal da opinião pública. Mas ficam prejudicadas por Witzel ter se aproveitado antes da indignação contra a "velha política", a partir de operações como a Lava-Jato, para chegar ao Palácio Guanabara, onde não poderá mais trabalhar por 180 dias. Ao responsabilizar Bolsonaro, Witzel tenta desviar o foco das acusações que pesam contra ele, a mulher, Helena, e pessoas próximas como o ex-secretário Lucas Tristão, cuja prisão foi decretada. Mas, com referências à Lava-Jato, Lula, Temer e até ao título do livro "Como as democracias morrem", o risco é de perda de foco e enfraquecimento da estratégia de defesa.