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Rebelião na PGR - ISTOÉ

ARAS E LINDORA NA PGR

Em tempos de gestão polêmica de Augusto Aras, a Procuradoria-Geral da República (PGR) vive momentos de tensão. O PGR e os subprocuradores que o apoiam tentam, a todo custo, interferir nas operações que investigam os principais crimes de corrupção no País, como a Lava Jato no Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, além da Greenfield, que apura desvios em fundos de pensão, em Brasília.

Para os demais procuradores, por trás da iniciativa há um claro interesse de enfraquecer o combate ao crime organizado, fazer uma devassa sobre as apurações já realizadas e ter o controle total sobre futuras investigações. A administração controlada por Aras deseja, assim, criar a Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Unac) para centralizar as forças-tarefas e, com isso, poder decidir o que deve e não deve ser priorizado nas operações.

Procuradores do Paraná, por exemplo, acreditam que um dos objetivos do projeto é levantar processos em que o ex-juiz Sergio Moro atuou, como forma de vasculhar se ele cometeu algum deslize. Já outros quatro, dos sete procuradores da Lava Jato em Brasília, simplesmente rebelaram-se e pediram demissão de seus cargos, desestruturando a força-tarefa no Distrito Federal.

Quebra do sigilo na lava jato

A proposta da criação da Unac não é de hoje, mas o que detonou a crise na PGR foi a visita, na quinta-feira, 25, da subprocuradora Lindora Araújo à procuradoria regional do Paraná. Ela quis ter acesso a processos movidos pela Lava Jato de Curitiba, muitos deles com sentenças do ex-juiz Sergio Moro, e pediu até mesmo gravações de ligações telefônicas de procuradores feitas durante as investigações. Os procuradores da Lava Jato, coordenados por Deltan Dallagnol, que tem um bom relacionamento com Moro, consideraram ilegal a ação de Lindora, que é ligada a Aras.

Como se sabe, Aras é próximo de Bolsonaro e mandou investigar se Moro cometeu supostos crimes de denunciação caluniosa quando revelou que o presidente desejava interferir na Polícia Federal. Percebendo que a atuação da subprocuradora poderia ser uma manobra de intervenção na Lava Jato, os procuradores paranaenses denunciaram a emissária de Aras à Corregedoria Nacional do Ministério Público Federal.

Para eles, Lindora não foi ao Paraná em busca de compartilhamento de dados, mas para obter informações globais sobre o estágio das investigações e acessar o acervo da força-tarefa no Estado, que foi palco do início do combate à corrupção na Petrobras, levando vários políticos à prisão, entre eles Lula. Entenderam que os dados que ela queria representaria uma quebra no sigilo de processos.

Paralelamente aos protestos dos colegas do Paraná, os quatro procuradores da Lava Jato do DF pediram desligamento das funções. A primeira a pedir para sair foi a procuradora Maria Clara Noleto, que deixou a PGR no começo do mês. Na semana passada, após a incursão fracassada de Lindora a Curitiba, outros três procuradores pediram demissão coletiva: Hebert Reis Mesquita, Luana Vargas Macedo e Victor Riccely Lins Santos.

Como a operação tem sete integrantes, apenas três procuradores ligados a Lindora e Aras permanecem na ativa, enfraquecendo os trabalhos. No Paraná, segundo Deltan Dallagnol, o trabalho continua normal. “Só queremos que nos deixem trabalhar sem interferências externas”, disse o coordenador da força-tarefa à ISTOÉ. Outro que não se conteve em criticar a ação de Aras foi o ex-ministro Moro: “Aparentemente, pretende-se investigar a Operação Lava Jato em Curitiba.

Não há nada para esconder, embora essa intenção cause estranheza. Registro minha solidariedade aos procuradores competentes que preferiram deixar seus postos em Brasília”, comentou Moro. A verdade é que desde que Aras assumiu a PGR ele transformou-se em um defensor ferrenho dos interesses de Bolsonaro e desestruturar a Lava Jato parece ser um dos objetivos do governo.

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