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Odebrecht decide delatar no dia em que sofre devassa da PF

O grupo Odebrecht decidiu fazer um acordo de delação de seus principais executivos, inclusive o ex-presidente Marcelo Odebrecht, no dia em que foi alvo da última fase da Operação Lava Jato. A força-tarefa da Lava Jato, porém, não confirma o fechamento do acordo.

Um procurador ouvido pela Folha sob a condição anonimato disse que numa escala de zero à dez, as negociações com o grupo estão no nível 0,01.

Os investigadores dizem ter identificado um departamento de pagamento de propina que funcionava dentro da empresa.

Marcelo Odebrecht, que presidia a maior empreiteira e o quarto maior grupo privado do país, está preso desde junho do ano passado.

A delação de Marcelo tem potencial explosivo por causa das relações que o grupo manteve com o PT e, especialmente, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi por interferência de Lula, por exemplo, que a Odebrecht Defesa e Tecnologia se tornou parceira de um grupo francês num projeto de submarino atômico orçado em R$ 32 bilhões. Não houve concorrência na escolha da empresa que se associou aos franceses.

Outros quatro executivos que já foram condenados, junto com Marcelo, também têm a intenção de fazer o acordo de delação, segundo a Folhaapurou. São eles: Márcio Faria e Rogério Araújo, ainda presos, e Cesar Ramos e Alexandrino Alencar, que estão em liberdade.

Em nota divulgada nesta terça (22), a empresa, que negava enfaticamente ter participado do esquema de pagamento de propina em contratos com a Petrobras, reconhece que distribuiu suborno para obter contratos.

A Odebrecht afirma que a apuração da Lava Jato "revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país".

A empresa faz a ressalva de não ter "responsabilidade dominante" sobre o esquema de corrupção investigado pela Lava Jato e diz que continua "acreditando no Brasil".

A Odebrecht anunciou que está em negociações avançadas para fazer parte do programa Pacto Global, das Nações Unidas, do qual fazem parte corporações que defendem valores como o combate à corrupção, a proteção ao meio ambiente e a defesa dos direitos humanos.

O grupo afirma que também vai "adotar novas práticas de relacionamento com a esfera pública".

O acordo de delação está sendo negociado pelo advogado Theo Dias.

ACORDO-ÔNIBUS

O número de funcionários que podem fazer delação não está definido e deve ser bem maior do que os cinco já condenados. A Odebrecht quer adotar o modelo da Camargo Corrêa, que fez uma convocação de seus executivos que tiveram envolvimento em corrupção e estavam dispostos a contar o que sabiam em troca de uma pena menor.

A Odebrecht também deve fazer um acordo de leniência, que é uma espécie de delação para empresas. O valor da multa ainda está em negociação, mas será superior ao R$ 1 bilhão pago pela Andrade Gutierrez em seu acordo de leniência.

O Ministério Público Federal queria que a empresa pagasse uma multa de R$ 5 bilhões, valor que foi considerado irreal pelos acionistas e negociadores da Odebrecht.

Marcelo sofria pressões para fazer o acordo, inclusive do próprio pai, Emílio Odebrecht. Emílio temia pelo futuro do grupo se não houvesse acordos de delação e de leniência. Na avaliação de executivos da Odebrecht, o grupo corria o risco de encolher e até quebrar por falta de crédito. Havia o temor de que a empresa fosse considerada inidônea pela Controladoria-Geral da União e proibida de celebrar contratos com o poder público no Brasil.

Em nota, a empresa afirma: "As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação Lava Jato".

Prossegue o texto: "Esperamos que os esclarecimentos da colaboração contribuam significativamente com a Justiça brasileira e com a construção de um Brasil melhor".

O Ministério Público Federal, porém, afirmou que "não fez acordo com a Odebrecht ou seus executivos". "Qualquer acordo, neste momento, será restrito às pessoas que vierem antes e cuja colaboração se revelar mais importante ao interesse público", diz o órgão.

Fundada há 72 anos, o grupo tem 130 mil funcionários e faturou R$ 107,7 bilhões em 2014. FOLHA DE SP

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