Busque abaixo o que você precisa!

Deboche em Congonhas - O ESTADO DE SP

Diante do teor do depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva à Polícia Federal (PF) no dia 4 de março, quando foi levado coercitivamente ao Aeroporto de Congonhas, não seria adequado dizer que o ex-presidente desrespeitou a Justiça. A atitude de Lula é pior. Esbanja indiferença e desprezo, sem receio de mostrar que se considera acima da lei e se acha ultrajado simplesmente por lhe perguntarem sobre os escândalos em que se enredou.

Lula tinha o direito de ficar calado e não dar nenhuma resposta aos investigadores sobre o tríplex no Guarujá, o sítio de Atibaia, as doações recebidas pelo Instituto Lula, os repasses do instituto a determinadas empresas, suas requisitadas palestras pelo mundo afora. Mas preferiu fazer um show midiático. Estava em Congonhas para esclarecer suspeitas de ter utilizado sua entidade e suas palestras para receber propinas de empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobrás. Ao invés disso, preferiu anunciar sua candidatura à Presidência da República em 2018.

Perguntado sobre o tríplex no Guarujá, Lula fez a seguinte explanação: “Eu tenho uma história de vida, a minha mulher com 11 anos de idade já trabalhava de empregada doméstica e minha mulher prestar um depoimento sobre uma porra de um apartamento que não é nosso?! Manda a mulher do procurador vir prestar depoimento, a mãe dele. Por que que vai minha mulher? (...) Eu quero te dizer o seguinte: eu ando muito puto da vida, muito, muito zangado porque a falta de respeito e a cretinice comigo extrapolou”. As autoridades presentes agiram com exemplar cortesia e sangue frio. Em outras circunstâncias, palavras como essas justificariam a prisão de seu autor em flagrante, por crime de desacato.

Sem pudor, Lula usou sua história de vida para blindá-lo da necessidade de esclarecer os fatos relativos ao apartamento no Guarujá, que visitou com Léo Pinheiro, presidente da OAS e condenado a 16 anos de prisão por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás. Lula ainda teve o descaramento de explicar por que não tinha ficado satisfeito com o imóvel. “Quando eu fui a primeira vez, eu disse ao Léo que o prédio era inadequado porque além de ser pequeno, um triplex de 215 metros é um triplex Minha Casa, Minha Vida”.

Quando lhe dava na veneta, Lula se enchia de indignação e fazia um longo desabafo, debochando das suspeitas que recaem sobre sua conduta. Por exemplo, para Lula, “a Polícia Federal inventa a história do tríplex, que foi uma sacanagem homérica”. Mais adiante, explicitou o modo como ele se sentia durante o depoimento: “E eu fico aqui que nem um babaca respondendo coisas de um procurador”.

É grave que Lula, sendo quem é – um ex-presidente da República – não se dê conta de que há instituições e de que há leis, de que há na vida democrática de um país várias esferas, que merecem respeito e não podem ser manipuladas a seu bel-prazer. Nem tudo é passível de escárnio. Lula, no entanto, intencionalmente coloca-se bem longe dessas preocupações. O que lhe interessa é fazer seu jogo político. Sua disposição – assim faz questão de deixar transparecer – é vencer no grito a qualquer custo.

Lula não pode alegar ignorância. O seu desprezo pela Justiça era de caso pensado. Não estava ali um ingênuo. Lula sabia muito bem quando devia ser evasivo ou quando devia remeter a terceiros a responsabilidade. A respeito do Instituto Lula, jogou o peso das decisões sobre Paulo Okamotto, presidente do instituto, e seus quatro diretores – Clara Ant, Celso Marcondes, Paulo Vannuchi e Luiz Dulci. Professoral, ainda expôs a razão para essa atitude. “Porque eu trabalho com a ideia que os diretores têm que ter muita autonomia com relação a mim”, afirmou o petista.

O País conhece bem esse tipo de governança. Lula nunca sabe de nada e, se for necessário, não poupa ninguém. Sobre a gestão financeira, afirmou que “nem no instituto e nem em casa eu cuido disso. Em casa tem uma mulher chamada dona Marisa que cuida”. Com essas evasivas diante de graves denúncias, quer ser presidente mais uma vez.

Compartilhar Conteúdo

444