As revelações dos empreiteiros - ISTOÉ
Nas últimas semanas, foram intensificadas as tratativas entre os executivos Marcelo Odebrecht e Leo Pinheiro, do OAS, para uma delação conjunta. Se revelarem tudo o que sabem sobre os meandros do poder e sua relação com o esquema do Petrolão, certamente seus depoimentos terão o potencial de abalar a República. Enquanto OAS e Odebrecht avaliam o que têm a delatar, executivos da Andrade Gutierrez estão praticamente finalizando sua colaboração. Segundo investigadores da Operação Lava Jato ouvidos por ISTOÉ, os dirigentes da empreiteira revelaram detalhes do caixa dois na campanha de 2014 da presidente Dilma Rousseff, quando se reelegeu para o atual mandato.
Novas revelações: A OAS, de Leo Pinheiro (à esq), e a Andrade Gutierrez, de Otávio Azevedo,
têm muito a contar sobre os bastidores do Petrolão
No início do mês, havia vazado a informação de que a Andrade Gutierrez quitou dívidas da campanha de 2010 por intermédio de um contrato de prestação de serviços com a Pepper, agência de comunicação ligada ao PT. A empreiteira repassou R$ 6,5 milhões à Pepper, de acordo com o sigilo bancário do agência que a CPI do BNDES teve acesso. A agência comunicação cuidou de redes sociais para a campanha de petista. Foi investigada pela Polícia Federal após ser acusada de patrocinar um bunker em Brasília destinado a bisbilhotar e produzir dossiês contra adversários dos petistas.
A Pepper é alvo da Operação Acrônimo, que apura o suposto repasse de propina desviada do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, investigado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agora, surgem os primeiros detalhes que a Andrade Gutierrez repetiu o modus operandi na reeleição da petista. Os delatores explicaram à Procuradoria-Geral da República (PGR) como foi a contabilidade das doações eleitorais que fez em 2014, identificando os repasses legais dos ilegais.
Na última semana, Marcelo Odebrecht foi condenado
a 19 anos de prisão. o empreiteiro negocia delação
com a procuradoria da repúplica em parceria com a OAS
Outro assunto abordado na colaboração foi a construção de arenas da Copa do Mundo, que teria envolvido também o pagamento de propina a agentes públicos. Os executivos da Andrade Gutierrez falaram sobre o Mané Garrincha, em Brasília. A empreiteira atuou ainda, sozinha ou em consórcio, na reforma do estádio do Maracanã, no Rio, do Mané Garrincha, do Beira-Rio, em Porto Alegre, e na construção da Arena Amazonas, em Manaus.
No caso do Beira-Rio, o assunto muito preocupa a presidente por envolver seu ex-assessor Anderson Dornelles, ligado a empresário que mantêm um bar na arena. Os depoimentos dos executivos da Andrade Gutierrez estão em fase final. Encerrada essa etapa, o material segue para o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autoridade competente para homologar a delação. Parte das informações deve ser enviada a Curitiba, para auxiliar nas investigações que prosseguem na capital paranaense. Outra parte vai tramitar no Supremo, para que sejam investigadas as autoridades com foro naquele tribunal.
O consiglieri vai falar
Os procuradores da Lava Jato já contabilizam o pecuarista José Carlos Bumlai na lista de futuros delatores. As suas revelações podem encalacrar principalmente a família Lula, a quem, segundo o senador Delcídio, ele seria um consiglieri – uma espécie de braço direito em negociatas. Amigo pessoal do ex-presidente, Bumlai tinha acesso privilegiado a ele. O pecuarista pode confirmar, acreditam investigadores, como contratos superfaturados teriam beneficiado diretamente parentes do ex-presidente. O pecuarista foi, junto com empreiteiras denunciadas, o responsável por pagar reformas no sítio da família Lula em Atibaia. Também teria intermediado um pagamento de R$ 2 milhões a uma nora do petista.