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De ‘não investigado, Lula passa a ‘denunciado’

Em 20 de janeiro, falando a um grupo de blogueiros, Lula jactou-se: “Não sou investigado!” Embora estivesse rodeado de suspeitas, o ex-presidente petista autocongratulou-se: “Se tem uma coisa de que me orgulho é que não tem, nesse país, uma viva alma mais honesta do que eu.”

Passados 49 dias, a “alma viva mais honesta” passou da condição de “não investigado” para a de denunciado. Em peça protocolada na 4ª Vara da Justiça de São Paulo, o Ministério Público paulista acusou Lula e mais 15 pessoas pelos crimes de estelionato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

A denúncia se refere ao caso do já célebre apartamento tríplex do Guarujá. Subscritores do documento, os promotores Cássio Conserino, Fernando Henrique Araújo e José Carlos Blat sustentam que Lula é o verdadeiro dono do imóvel. Acusam-no de ocultar patrimônio.

Lula se recusou a depor. Alega que o promotor Cássio Conserino o pré-julgou ao declarar à revista Veja que o denunciaria. Perdeu a oportunidade de contrapor argumentos capazes de derrubar os indícios colecionados pelos investigadores em uma centena de depoimentos.

A novidade vem à luz cinco dias depois de a Polícia Federal ter conduzido Lula coercitivamente para prestar depoimento em inquérito relacionado à Lava Jato. O tríplex é objeto também desta investigação. Mas a denúncia da Promotoria de São Paulo nada tem a ver com o processo presidido em Curitiba pelo juiz Sérgio Moro.

O alarme da suspeição continua soando, enquanto Lula diverte a plateia com sua tradicional desconversa. Nesta quarta-feira, ele repetiu para um grupo de 20 senadores, na casa do multi-investigado Renan Calheiros, que é “perseguido” pelo Ministério Público e pelo doutor Moro.

Lula ainda não se deu conta. Mas sua imagem tornou-se um problema urgente. Movido por um tipo de credo que exclui o ingrediente da dúvida, Lula alcançou a fase do pós-cinismo. Passou a acreditar piamente em todas as presunções que construiu a seu próprio respeito.

Isso inclui aceitar a tese segundo a qual Lula tem uma missão divina no mundo e, portanto, inquestionável. Não deve contas senão à sua própria noção de superioridade. Não é o cinismo de Lula que assusta. O cinismo é usual na política. O que assusta mesmo é a percepção de que Lula pode não estar sendo cínico. Ele acredita que sua missão especial no planeta lhe dá o direito de ignorar a lógica e a Justiça. JOSIAS DE SOUZA

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