Patrimônio de preso na Lava Jato cresceu 35 vezes em 10 anos
O patrimônio do engenheiro Zwi Skornicki, preso preventivamente nesta segunda-feira (22), no Rio de Janeiro, durante a 23ª fase da Operação Lava Jato, aumentou 35 vezes em 10 anos. Segundo informações obtidas pelo Jornal Nacional, seu patrimônio declarado passou de R$ 1,8 milhão para R$ 63 milhões. Na primeira vez em que a operação levou a Polícia Federal à casa de Zwi Skornicki, em 5 de fevereiro de 2015, os agentes recolheram na garagem subterrânea cinco carros importados e valiosos. Nesta segunda, em outros endereços do suspeito de ser operador de propinas da Petrobras, foram apreendidos pelo menos mais dez. Modelos antigos, de colecionador, estavam na mansão da Região Serrana do Rio de Janeiro. A PF não divulgou o número exato.
A residência fixa de Zwi é em uma casa dentro de um condomínio na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da capital, com subsolo e mais dois pavimentos.
O engenheiro tem outra casa no litoral sul do estado, e está construindo mais uma, em outro condomínio da região de Angra dos Reis. Alancha que ele costuma usar em passeiospelas ilhas e praias da chamada Costa Verde foi apreendida, junto com dinheiro vivo, em reais, euros e dólares. Os valores não foram divulgados. Tudo isso se junta a 48 obras de arte de pintores famosos, apreendidas há um ano. Algumas, expostas no Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba.
Zwi Skornick é um nome muito conhecido entre os profissionais das áreas de petróleo e gás. Já trabalhou na Petrobras, na Odebrecht e, no início dos anos 1990, abriu a própria consultoria. Zwi sempre disse que seu patrimônio é fruto de décadas de trabalho, mas isso não convenceu os investigadores da Lava Jato.
Foi também na década de 1990 que Zwi passou a representar a empresa de engenharia naval Keppel Fels, investigada por pagamento de propina em contratos com a Petrobras. O engenheiro foi citado na delação premiada de Pedro Barusco, em setembro de 2015, como operador de propinas.
"Com o sr. Zwi nós fomos acumulando como se fosse uma conta e foi quando, em 2012, nós fizemos um grande acerto de contas, que foi de US$ 14 milhões. Eu fiquei com 2 e 12 foi para o Renato Duque", disse Barusco durante a delação.
Por nota, a defesa do engenheiro declarou que só vai falar nos autos do processo e que considera a prisão desnecessária, já que desde a 9ª fase da operação, há mais de 1 ano, ele sempre esteve no brasil e à disposição para prestar esclarecimentos.
Operação Acarajé
Esta etapa da Lava Jato é chamada de Operação Acarajé, que era o nome usado pelos suspeitos para se referirem ao dinheiro irregular, de acordo com a PF. Ao todo, foram expedidos 51 mandados judiciais, sendo 38 de busca e apreensão, dois de prisão preventiva, seis de prisão temporária e cinco de condução coercitiva – quando os presos são obrigados a comparecer à delegacia para prestar depoimento.
Foram presos:
Zwi Skornicki - prisão preventiva
Vinícius Veiga Borin - prisão temporária
Maria Lúcia Guimarães Tavares - prisão temporária
Benedito Barbosa - prisão temporária
Os três devem chegar à carceragem da PF, em Curitiba, ainda nesta segunda-feira. Já Maria Lúcia deve chegar apenas na terça (23).
Estão fora do país:
Fernando Migliacio - prisão preventiva
João Santana - prisão temporária
Monica Moura - prisão temporária
Marcelo Rodrigues - prisão temporária
Conta secreta no exterior
A suspeita é de que, usando uma conta secreta no exterior, o publicitário João Santana teria recebido dinheiro da Odebrecht e do engenheiro Zwi Skornicki, representante oficial no Brasil do estaleiro Keppel Fels, segundo o Ministério Público Federal (MPF). De acordo com as investigações, João Santana recebeu US$ 7,5 milhões em contas no exterior.
Desse total, Santana teria recebido US$ 3 milhões de offshores ligadas à Odebrecht , entre 2012 e 2013, e US$ 4,5 milhões do engenheiro Zwi Skornicki, entre 2013 e 2014. O engenheiro também foi preso na 23ª fase. Ele é apontado como operador do esquema.
A assessoria da empresa de João Santana diz que o advogado Fábio Tofic divulgará no início desta tarde um comunicado sobre o pedido de prisão.
"Há o indicativo claro que esses valores têm origem na corrupção da própria Petrobras. É bom deixar isso bem claro, para que não se tenha a ilusão de que estamos trabalhando com caixa 2, somente", diz o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Carlos Fernando dos Santos Lima.
Suspeitas sobre a Odebrecht
Investigadores descobriram mais indícios do envolvimento de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que está preso desde junho de 2015, no esquema investigado na Lava Jato. Ele teria controle sobre pagamentos feitos por meio de offshores ao publicitário João Santana, ao ex-ministro José Dirceu, além de funcionários públicos da Argentina.
O MPF fez um novo pedido de prisão preventiva de Marcelo Odebrecht, mas ele foi indeferido pelo juiz Sérgio Moro. Segundo o procurador Carlos Lima, há indícios de que o empresário tentou transferir funcionários para o exterior, para dificultar as investigações em torno da Odebrecht.
Esta etapa da Lava Jato identificou novos operadores de propina na empreiteira: Hilberto Mascarenhas Alves Silva Filho e Luiz Eduardo Rocha Soares. Eles faziam os pagamentos ilegais por meio das offshores Klienfeld e Innovation, ligadas à Odebrecht, segundo as investigações.
Carta indicava caminhos para fazer pagamentos
Segundo o delegado PF Filipe Pace, os fatos relevados na 23ª fase da Lava Lato surgiram de materiais apreendidos na 9ª etapa da operação. Entre eles, estava uma carta de Monica Santana, mulher e sócia de João Santana na Pólis Propaganda & Marketing, endereçada ao engenheiro Zwi Skornicki.
Nela, havia um contrato entre a offshore Shellbill, que tem sede no Panamá e a PF acredita ser de Monica, e a Innovation, ligada à Odebrecht.
A carta indicava caminhos para fazer pagamentos. Havia números de contas do Citibank em Nova York e em Londres, que, na verdade, correspodiam a uma conta na Suíça. O banco permitia operações em dólar e euro por meio de contas conveniadas nos Estados Unidos e no Reino Unido. "O dinheiro foi depositado através dessas contas correspondentes, mas o beneficiário final foi a sua conta na Suiça", disse Filipe Pace. A PF suspeita que Santana comprou um apartamento de R$ 3 milhões em São Paulo com o dinheiro que recebeu da Odebrecht.